por Luiz Antonio Almeida

1863
20.03

Nasce Ernesto Júlio de Nazareth, o segundo de quatro filhos do casal Vasco Lourenço da Silva Nazareth, despachante aduaneiro, e Carolina Augusta da Cunha Nazareth, dona de casa e pianista amadora. Teve como local de nascimento a casa de número nº 9 da Rua do Bom Jardim (atual Rua Vidal de Negreiros, nº 27), num dos flancos do Morro do Nheco (depois chamado Morro do Pinto), bairro de Santo Cristo, Rio de Janeiro.

19.04

Seu batismo é realizado na Igreja de Santana.

Carolina Augusta Nazareth (grávida de Ernesto), Vasco Lourenço Nazareth e Vasquinho (1862)

1865

Nesta época a família reside à Rua do Pau Ferro, nº 5, em São Cristóvão, onde ficará até o ano seguinte. 

'O Raio', de Martins Pinheiro, peça virtuosística do repertório de Carolina Augusta da Cunha Nazareth (Acervo Ernesto Nazareth, LAA)

1866

Tira sua primeira fotografia, em um estúdio à Rua do Sabão (desaparecida, mais tarde, com a abertura da Avenida Presidente Vargas). A família Nazareth volta a morar na Rua do Bom Jardim, no Morro do Nheco, mas em casa de número 20-A. Nesta época Ernesto começa a demonstrar forte inclinação para a música e passa a receber as primeiras noções de piano através de sua mãe, que lhe apresentava obras de Beethoven, Chopin, Gottschalk, Arthur Napoleão, além das músicas ligeiras do momento.

Ernesto Nazareth aos 3 anos

1869

Conhece, casualmente, o pianista e compositor norte-americano Louis Moreau Gottschalk (1829-1869). O encontro se dá no Theatro Lyrico Fluminense, quando o menino de seis anos acompanha seu tio materno e padrinho, Júlio Augusto Pereira da Cunha, pianista e compositor amador, que fora ajudar um amigo na afinação dos pianos que Gottschalk usaria no mirabolante concerto de 5 de outubro, no referido teatro do Campo de Santana, para trinta e um pianistas e duas orquestras.

Louis Moreau Gottschalk

1870

Nesse ano, Ernesto tira por Photo-Lopes, à Rua do Ouvidor, nº 62, a segunda mais antiga de suas fotografias conhecidas.

Ernesto Nazareth aos 7 anos

1873

Aos dez anos de idade, cai de uma árvore, sofrendo forte concussão na cabeça, seguida de hemorragia nos ouvidos, principalmente no direito. Com o passar dos anos, as sequelas levariam-no à quase completa surdez.

1874
05.09

Falece aos 32 anos Carolina Augusta da Cunha Nazareth, sua mãe e primeira professora de piano. Sem o incentivo materno, cai em conflitos com o pai, que quer lhe proibir de tocar piano, para que siga outra carreira. Porém, pouco depois, passa a receber lições por um ano e meio de Eduardo Madeira, compositor e amigo da família. Nesse ano, ainda, a família Nazareth muda-se do Morro do Nheco para outra casa à Rua da Braça d’Ouro (atual Rua Paula Brito), nº 5, no bairro do Andaraí, ali permanecendo poucos meses.

"Mude-se para perto", polca de Eduardo Madeira, professor de Ernesto

1875

Nazareth muda-se com a família para uma casa à Rua da Princeza, nº 204, bairro dos Cajueiros, ficando ali poucos meses. Esse logradouro, que já não existe mais, situava-se nas imediações das ruas Senador Pompeu e Barão de São Félix, ao lado da Estação D. Pedro II (Central do Brasil). 

1876

Nesse ano, a família Nazareth passa a residir à Rua (ou Travessa) de São Salvador, nº 11, bairro do Engenho Velho, permanecendo ali cerca de seis anos.

1877
Você bem sabe!

Aos 14 anos, compõe a primeira música: Você bem sabe, polca-lundu dedicada a seu pai. O título é um recado ao pai, afirmando que Vasco “bem sabia” que a paixão de Ernesto era a música. Nessa época, é aluno do Colégio S. Francisco de Paula, localizado à Praça da Constituição (Praça Tiradentes), nº 45, “antigo Largo do Rocio”, e tem Olavo Bilac entre seus colegas.

Vasco Lourenço da Silva Nazareth, pai de Ernesto

1878
O nome dela
25.12

No Jornal do Commercio sai o anúncio da primeira edição de Você bem sabe: “Sahio a luz: VOCÊ BEM SABE linda polka para piano, composição do distincto pianista Ernesto Julio de Nazareth, acha-se a venda unicamente em casa de Arthur Napoleão & Miguez – RUA DO OUVIDOR 89”. O lançamento comercial de Você bem sabe coloca o compositor entre os mais precoces de seu tempo. 

Selo da Casa Arthur Napoleão

1879
Cruz, perigo!!
Gracietta
1880
Gentes! O imposto pegou?
08.03

Doze dias antes de completar dezessete anos, toma parte de um recital no Salão do Clube Mozart – provavelmente sua primeira apresentação pública. Participa do mesmo evento o flautista e compositor Viriato Figueira da Silva (1851-1883), considerado um dos “pais” do choro.

Viriato Figueira, flautista

1881
Não caio noutra!!!

A polca Não caio n’outra!!!, editada nesse ano, em resposta à polca Caiu! não disse? de Viriato Figueira da Silva, torna-se, pelo número de sucessivas reedições, seu primeiro grande sucesso. Com os recursos provenientes de suas músicas, resolve tomar “lições de aperfeiçoamento” com o pianista e compositor negro Charles Lucièn Lambert, americano de Nova Orleans, que chegara com a família no Rio de Janeiro em 1862, abrindo casa de música em que passa a lecionar. Nesta época, os tios maternos de Nazareth, Ludovina Augusta e Júlio Augusto Pereira da Cunha, tencionam enviá-lo à Europa para aperfeiçoar seus estudos, porém a tentativa é frustrada por falta de recursos.

Registro da polca 'Não caio noutra!!' na Biblioteca Nacional

1882
A Fonte do Suspiro
O nome dela

Nesse ano, Ernesto Nazareth mora com a família à Rua de Dona Carolina Reydner (atual Rua Carolina Reidner), nº 1, próximo ao Cemitério de São Francisco de Paula, no Catumbi, ali residindo cerca de três anos.

1883
Os teus olhos cativam

Aos vinte anos, Ernesto Nazareth já é conhecido no Rio como compositor, intérprete e professor de piano.

Ernesto Nazareth aos 23 anos

1884
Beija-flor
Não me fujas assim
1885
Primorosa
Recordações do passado

A família Nazareth muda-se para a Rua Itapiru, nº 10-C, também no Catumbi. Ernesto Nazareth apresenta-se em cinco recitais em clubes, tocando peças de autores famosos no séc. XIX, como Thalberg, Raff e Ravina.

1886

Na companhia de seu pai e irmã, encontra-se residindo outra vez em casa à Rua (ou Travessa) de São Salvador, nº 11, no bairro do Engenho Velho. 14/07 – Na Igreja de São Francisco Xavier do Engenho Velho, Ernesto Nazareth casa-se com Theodora Amália Leal de Meirelles (1852-1929), que passa a assinar Theodora Amália Meirelles de Nazareth. Theodora era onze anos mais velha que Ernesto, e foi sua companheira até sua morte em 1929. Os recém-casados vão morar à Rua de São Januário, possivelmente nº 13, no bairro de São Cristóvão, ali permanecendo pelo menos quinze anos. Toma parte em diversos recitais de câmara, executando peças de autores como Rossini, Denza, Popp e Astroc.

Igreja S. Francisco Xavier, no Engenho Velho / Theodora Amália Leal Meirelles de Nazareth, esposa do compositor

1887
A flor de meus sonhos
23.04

Sábado, às 23 horas, em casa de seu avô e parteiro, Dr. Baptista Meirelles, à Rua de São Januário, nº 4, nasce a primeira dos quatro filhos de Ernesto e Theodora Amália: Eulina de Nazareth.

Eulina, primeira filha de Ernesto e Theodora Amália

1888
A Bela Melusina
A Fonte do Lambary
Nazareth
16.07

Segunda-feira, “a uma hora”, presumivelmente da madrugada, à Rua de São Januário, nº 13, nasce o segundo filho de Ernesto e Theodora Amália: Diniz Nazareth, que viria a se tornar compositor amador.

Diniz, segundo filho de Ernesto e Theodora Amália

1889
Atrevidinha
Chile-Brasil
Eulina
16.03

Aparece impressa sua décima-terceira polca e décima-quarta composição editada: Atrevidinha. À mesma época compõe a quadrilha Chile-Brasil, que só veria publicada em 1897. Neste ano nasce morto um filho do casal Nazareth: João Baptista. 

1890

Nasce morta uma filha do casal Nazareth: Marietta.

1892
Rayon d'or
16.10

Domingo, “às 8 horas”, possivelmente da manhã, nasce, à Freguesia de São Sebastião, em Barra Mansa, município do estado do Rio de Janeiro, o terceiro filho de Ernesto e Theodora Amália: Maria de Lourdes Nazareth, a “Marietta” ou “Lourdes”.

Marietta, terceira filha de Ernesto e Theodora Amália

1893
Brejeiro
Cuiubinha
Julita

Aos trinta anos, Ernesto Nazareth quase morre em consequência de uma febre reumática. Vem a público, pela primeira vez, um tango brasileiro, gênero que o consagraria: Brejeiro torna-se o maior sucesso do compositor no século XIX, tendo recebido letra de Catullo da Paixão Cearense poucos anos depois. Ernesto vende esta música a seus editores Fontes & Cia pela quantia de cinquenta mil-réis, algo em torno de quinhentos reais no câmbio de hoje. No ano seguinte, os mesmos editores lhe presenteiam com um guarda-chuva com o castão de ouro. 

Catullo da Paixão Cearense

1894
Marietta

Nesse ano, presumivelmente, começa a trabalhar como pianista demonstrador da Casa Vieira Machado & Cia., à Rua dos Ourives (atual Rua Miguel Couto), nº 51. Nos anos seguintes trabalha em outros estabelecimentos, onde não só demonstra como também escreve e revisa partituras, atraindo numerosos admiradores.

Capa de partitura com propaganda de músicas de Ernesto Nazareth, pela Casa Vieira Machado

1895
Caçadora
Crê e espera
Favorito
Helena
Julieta
Myosótis
Nenê
1896
Españolita
Pipoca
Ramirinho
Remando
Segredo
01.02

Sábado, às 19 horas, nasce em casa de Joanninha, irmã de Theodora Amália, à Rua de São Januário, nº 54, o quarto e último filho do pianista: Ernesto de Nazareth, o “Ernestinho”. Nesse ano vê cinco composições impressas pela Casa Arthur Napoleão & Cia. e três pela Casa Vieira Machado & Cia.

Ernestinho, quarto filho de Ernesto e Theodora Amália

1897
Feitiço
Orminda
1898
Adieu
Está chumbado
Furinga
Gentil

Por iniciativa do Clube de São Cristóvão, apresenta-se no Salão Nobre da Intendência da Guerra. Segundo algumas fontes, o concerto tem a participação do menino prodígio Ernani Braga (1888-1948), mais tarde consagrado pianista, compositor, regente e folclorista. Nesse ano é publicado o romance sem palavras Adieu, inaugurando um grupo de obras que Nazareth chamaria de “peças de estilo”, mais próximas do universo erudito, e que permearam sua obra até o final da vida.

1899
Bicyclette-club
Bombom
Cacique
Corbeille de fleurs
Iris
Quebradinha
Turuna
Zica
Zizinha

São editadas nove obras de Nazareth, número expressivo para a época: três tangos, três polcas, duas valsas e sua única gavota, Corbeille de fleurs, peça que integra com frequência os recitais do próprio compositor.

1900
Arrufos
Digo
Dora
Elite club
Genial
Julieta
Onze de maio
Vésper
1901
Batuque
Encantada
Henriette
Laço azul

É desse ano Batuque, tango característico, que recebe algumas modificações até ser editado em 1913. É dedicado a Henrique Oswald, grande admirador de Nazareth. Ao ouvi-lo no Cinema Odeon, na década de 1910, Oswald afirma: “É admirável esse moço. Que música ele faz! Eu mesmo seria incapaz de interpretá-la com aquela mestria, aquele prodígio de ritmo. E aqui, perdido nesta indiferença...”.

Henrique Oswald ao piano, em 1902

1902
Vitorioso

São realizadas as primeiras gravações no Brasil. Pela Casa Edison (Odeon), Nazareth tem uma composição sua pela primeira vez registrada em disco: Está chumbado (zon-O-phone/X-1.055), gravada pela Banda do Corpo de Bombeiros e regida por Anacleto de Medeiros (1866-1907). No mesmo ano, falece seu irmão Vasco Lourenço da Silva Nazareth Júnior, e a cunhada e quatro sobrinhos passam a morar em sua casa por dois anos.

Banda do Corpo de Bombeiros, com Anacleto de Medeiros ao centro

1903
Coração que sente
Expansiva
Pyrilampo
Thierry

Morre aos quinze anos de idade seu sobrinho Gilberto, a quem Ernesto dedicara Brejeiro. É desse ano, entre outras obras, a valsa Coração que sente, editada dois anos depois. A valsa é dedicada a uma aluna que pagou integralmente as aulas que Ernesto faltara devido à morte de seu sobrinho. Depois de quase vinte anos, a família Nazareth já não reside mais à Rua de São Januário, e sim à Rua Jansen de Melo (então Rua de Santa Amélia), em São Cristóvão. Nesta época é convidado por Alberto Nepomuceno a diplomar-se pelo Instituto Nacional de Música, do qual era diretor, mas não aceita por considerar-se muito velho para tanto.

Ernesto Nazareth aos 40 anos

1904
Escovado
Soberano

Conhece o pianista norte-americano Ernest Schelling (1876-1939), que leva de volta a seu país bom número de composições de Nazareth.

Ernest Schelling, pianista norte-americano

1905
Cardosina
Ferramenta
Ideal

Pela Casa Edison (Odeon), sai em disco o tango Brejeiro (“O sertanejo enamorado”), com letra de Catullo da Paixão Cearense e cantado por Mário Pinheiro. Vêm a público as primeiras edições dos tangos Escovado e Ferramenta –  na partitura deste último, logo abaixo do nome do autor, aparece o mais antigo registro do epíteto “rei do tango”. Nesse ano, encontra-se o compositor residindo à Rua Senador Furtado, no bairro do Maracanã. Compõe a valsa Cardosina, dedicada a uma farmácia homeopata, um exemplo de “música de propaganda” em sua obra. 

Ernesto Nazareth aos 42 anos

1906
A florista

Continua trabalhando como pianista demonstrador na Casa Vieira Machado & Cia., à Rua do Ouvidor, nº 147 (novo endereço). Algumas de suas obras são gravadas pela primeira vez ao piano solo, por Arthur Camilo. Sua filha Eulina forma-se como professora pela Escola Normal, vindo a introduzir alguns anos depois de modo pioneiro o ensino da música em escolas.

Rua do Ouvidor

1907
Bambino
Dengoso
Duvidoso
Polonesa

Aos 44 anos, Ernesto Nazareth consegue emprego de 3º escriturário no Tesouro Nacional, única atividade em sua vida sem qualquer relação com a música. Porém, fica curtíssimo tempo, preferindo afastar-se antes mesmo de fazer as provas para a sua efetivação. Sob o pseudônimo de “Renaud”, compõe o maxixe Dengoso, que viria a ter grande sucesso internacional. 

Cafés do Rio antigo

1908
Floraux
Perigoso
02.07

No Instituto Nacional de Música, então localizado à Rua Luís de Camões, toma parte de um “concerto de violão e piano” organizado por Osório Duque Estrada, autor da letra do Hino Nacional Brasileiro. Entre agosto e novembro, convidado pelo maestro Alberto Nepomuceno, apresenta-se por duas vezes, interpretando somente músicas de sua autoria, na Exposição Nacional, evento realizado na Praia Vermelha em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos. Neste ano passa a trabalhar na Casa Mozart como pianista demonstrador.

Ernesto Nazareth aos 45 anos

1909
Chave de ouro
Odeon
06.06

Compõe e edita, por conta própria, o tango Odeon, que viria a ser seu maior sucesso a partir da segunda metade do século XX, Começa a dividir suas atividades entre a Casa Mozart, de propriedade do português Lino José Barbosa, situada à Avenida Central (atual Rio Branco), nº 127, e a sala de espera do antigo Cinema Odeon, o mais luxuoso da cidade, à Avenida Central, nº 137, esquina com Rua Sete de Setembro. Muita gente passa a ir ao Odeon só para ouvir Nazareth tocar, deixando inclusive de assistir aos filmes. 

Toma parte em recital realizado no Instituto Nacional de Música interpretando sua gavota Corbeille de fleurs e o tango característico Batuque, e ainda acompanha Heitor Villa-Lobos (1887-1959) na peça Le cygne, de Saint-Saëns, para violoncelo e piano. Esta é possivelmente a primeira apresentação pública de Villa-Lobos, então com 22 anos de idade. Catullo da Paixão Cearense publica o soneto “A Ernesto Nazareth”. Nesta época Ernesto toca dentro do Cinema Olympico acompanhando os filmes mudos, e reside à Rua Jockey Club, nº 57.

Heitor Villa-Lobos

1910
Polca (para mão esquerda)

Tem uma lista de obras publicada no Manuel universel de la littérature musicale, editado em Paris por François Pazdirek. Toma parte em recital no Theatro Municipal de Niterói e tem obras gravadas por diversas bandas, como Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Banda Columbia, Banda da Casa Faulhaber, Banda Escudeiro, entre outras.

Palco na Sala de Espera Cine Odeon onde Ernesto Nazareth tocava

1911
Noêmia
Turbilhão de beijos

Encontra-se o compositor residindo a menos de trinta metros do Odeon, à Rua Sete de Setembro, nº 81, próximo à esquina da Rua Rodrigo Silva. O sobrado, de três andares (a família morava no último), foi demolido em meados da década de 1970. Escovado é gravado pela Banda Pryor, nos EUA.

Fachada do Cine Odeon

1912
Correta
Cuéra

Seis de suas peças são editadas neste ano, entre elas as primeiras edições do tango Bambino e de Expansiva, uma de suas valsas mais conhecidas. Pela Casa Edison (Odeon), acompanhado pelo flautista Pedro de Alcântara (1866-1929), grava seus tangos Odeon e Favorito, e as polcas Linguagem do coração, de Joaquim Antonio da Silva Callado Júnior (1848-1880), e Choro e poesia, do próprio Alcântara.

1913
Ameno Resedá
Atrevido
Carioca
Confidências
Cutuba
Elétrica
Eponina
Espalhafatoso
Fon-fon!
Reboliço
Saudade
Talismã
Tenebroso
Travesso

No ano em que completa cinquenta anos, Nazareth deixa o Cinema Odeon, continuando, porém, a trabalhar na Casa Mozart. São lançadas edições do tango característico Batuque, dedicado ao maestro Henrique Oswald (1852-1931), e da valsa Confidências, dedicada ao poeta e trovador popular Catullo da Paixão Cearense. No total, são editados nesse ano nada menos que onze tangos, quatro valsas e duas polcas.

Capa de partitura com propaganda da casa Mozart

1914
Alerta!
Apanhei-te, cavaquinho
Catrapus
Fidalga
Mesquitinha
Pierrot
Sagaz
Topázio líquido
Vem cá, branquinha

É desse ano (e não 1915, conforme encontra-se em muitas publicações) a primeira edição da polca Apanhei-te, cavaquinho, que alcança grande sucesso. A Casa Beethoven (Nascimento Silva & Cia.), situada à Rua do Ouvidor, nº 175, lança um catálogo em que dezenove outras composições de Nazareth aparecem gravadas em rolos de pianola, confeccionados nos Estados Unidos. Brejeiro e Dengoso são publicados nos EUA e recebem diversas gravações americanas.

Capas de edições americanas do maxixe Dengoso (uma delas com o subtítulo "parisian maxixe")

1915
Divina
Ouro sobre azul
1916
Garoto
Gotas de ouro
Podia ser pior
Retumbante
Sarambeque
Tupynambá

Resultado do enorme sucesso alcançado, a polca Apanhei-te, cavaquinho. recebe duas gravações, pela Casa Edison (Odeon): 121.136, com o Grupo O Passos no Choro, e 121.153, com a Orquestra Odeon.

1917
Famoso
Guerreiro
Labirinto
Matuto
Mercêdes
Nove de julho
Ranzinza
Saudade dos pagos

Retorna ao Cinema Odeon, agora exercendo a função de pianista da pequena orquestra do maestro Eduardo Andreozzi, na qual Villa-Lobos atua como violoncelista. O compositor francês Darius Milhaud (1892-1974) ouve Nazareth tocar na sala de espera do Odeon, e mais tarde escreve sobre ele com entusiasmo em sua autobiografia Notes sans musique. Muda-se para uma casa em frente à praia de Ipanema, à Avenida Vieira Souto, nº 158 (atual nº 192), tendo em vista a melhora da saúde de sua filha Maria de Lourdes. 

01.12

Falece, aos 25 anos, em conseqüência de profunda anemia, sua filha Maria de Lourdes. Nazareth dedica a meditação sentimental Lamentos “à memória de sua querida e inesquecível filha Maria de Lourdes Nazareth (Marietta)”. Nesta época, sua filha Eulina sai de casa para viver com a professora gaúcha Maria Mercedes Mendes Teixeira, o que resulta em um escândalo para a família. Com o tempo, Maria Mercedes, com seu caráter e conduta irrepreensíveis, conquista a simpatia e alguma compreensão de Ernesto e Theodora Amália, chegando a ser parceira do compositor em algumas músicas, na condição de letrista.

Interior do Cine Odeon

1918
Lamentos
Mágoas
Vitória

Muda-se para outra casa à Rua Visconde de Pirajá (então Rua Vinte de Novembro), nº 12, ali permanecendo por aproximadamente onze anos. Com o final da Primeira Guerra Mundial, compõe a marcha Vitória, dedicada “aos Aliados”. Antes de deixar definitivamente o Cinema Odeon, conhece o pianista polonês Arthur Rubinstein (1887-1982), que após ouvi-lo tocar pede a Henrique Oswald para apresentar-lhes, a fim de conhecer suas composições. Foi marcado um jantar na residência de Oswald e, ao sentar ao piano, Nazareth oferece uma lista de obras de compositores europeus para interpretar (Chopin, Beethoven, Liszt). Rubinstein, então, surpreso e com um sorriso, responde que aquelas peças ele também toca, o que ele deseja mesmo é ouvir as músicas que Nazareth tocava no Odeon. No mesmo cinema também conhece o compositor Francisco Mignone (1897-1986).

Arthur Rubinstein, pianista polonês

1919
Fraternidade
Insuperável
Suculento
Sustenta a... Nota...

O compositor e pianista Eduardo Souto (1882-1942) convida Ernesto Nazareth para ser pianista demonstrador da Casa Carlos Gomes, à Rua Gonçalves Dias, nº 75, de sua propriedade. Lá Nazareth toca todos os dias, das 12 às 18 horas, alcançando, assim como no Cinema Odeon, grande notoriedade. Em uma recepção ao presidente Epitácio Pessoa no Hotel Astor em Nova York são executadas as peças Brejeiro e Dengoso. A partir desse ano, sua filha Eulina começa a dar aulas na antiga Escola Pedro II (hoje Escola José de Alencar), da qual viria a ser diretora. Nazareth passa a compor hinos escolares e marchas infantis para serem cantadas pelas crianças no pátio do colégio, e frequentemente auxilia nos ensaios, tocando piano.

Eduardo Souto, compositor

1920
Andante expressivo
Arreliado
Brejeira
Canção cívica Rio de Janeiro
Capricho
De tarde
Hino da escola Bernardo de Vasconcellos
Hino da escola Pedro II
Magnífico
Maly
Mariazinha sentada na pedra!...
Menino de ouro
No jardim
Noturno
Nove de maio
Pássaros em festa
Rosa Maria
Segredos da infância
24.12

Heitor Villa-Lobos dedica a Ernesto Nazareth seu Choros nº 1, para violão, o primeiro de sua fundamental série de Choros. Nazareth termina de escrever seu Noturno nº 1. Nesta época já existem cerca de sessenta gravações de suas peças.

Fachada da Casa E. Bevilacqua - Rua dos Ourives

1921
Arrojado
Atlântico
Êxtase
Gemendo, rindo e pulando
Jacaré
O que há?
Pairando
Pauliceia, como és formosa!...
Saudades e saudades..!!
Xangô

Pela Casa Bevilacqua & Cia. são impressas dez de suas composições. Compõe a marcha Saudades e saudades..!! por ocasião da visita dos reis da Bélgica.

Visita dos reis belgas ao Rio, em 1921

1922
1922
Delightfulness (Delícia)
Desengonçado
Dirce
Elegantíssima
Elegia (para mão esquerda)
Fantástica
Fora dos eixos
Gaúcho
Hino da cultura de afeto às nações
If I am not mistaken
Improviso
Jangadeiro
Mandinga
Marcha heroica aos 18 do forte
Meigo
O futurista
Pinguim
Por que sofre?...
Sutil
Yolanda
16.12

A convite de Luciano Gallet (1893-1931), interpreta no Instituto Nacional de Música, à Rua do Passeio, nº 98, seus tangos Brejeiro, Nenê, Bambino e Turuna. Um grupo de pessoas, provavelmente visando atingir Gallet (destacado representante do movimento modernista), protesta contra a inclusão do nome de Nazareth no programa. Neste que é o ano da Semana de Arte Moderna, vem a público o tango O futurista, peça em que o autor, com ironia, procura mostrar aos “modernistas” da época que “mesmo que uma música apresente dissonâncias, não precisa ser, necessariamente, desprovida de alguma beleza!...”. Compõe a Marcha Heroica aos 18 do Forte em referência à Revolta do Forte de Copacabana. 

Inauguração do Salão Leopoldo Miguez, no Instituto de Nacional de Música (atual Escola de Música da UFRJ)

1923
Beija-flor
Escorregando
Hino da escola Esther Pedreira de Mello
Hino da escola Floriano Peixoto
Tudo sobe!...

Aos sessenta anos, Nazareth tem publicado o estudo de concerto Improviso, dedicado “ao distinto amigo Villa-Lobos”, oportunidade em que retribui a dedicatória que recebeu em 1921. Um de seus tangos brasileiros é incluído no Festival Glauco Velásquez, ao lado de obras de compositores como Villa-Lobos, Alberto Nepomuceno e Francisco Braga.

Ernesto Nazareth em frente a sua casa na rua Visconde do Pirajá

1924
Hino ao Sr. Prefeito Alaor Prata
O alvorecer
Saudação ao Dr. Carneiro Leão

O compositor gaúcho Radamés Gnattali ouve Ernesto Nazareth tocar na Casa Stephen. Nazareth dedica o tango Proeminente ao pianista polonês Mieczyslaw (Miécio) Horszowski.

Mieczyslaw Horszowski, pianista polonês

1925
Plangente
Tango-habanera

No final desse ano deixa a Casa Carlos Gomes, passando a dedicar-se aos preparativos de uma turnê por São Paulo.

Ernesto Nazareth aos 62 anos

1926
Até que enfim...
Celestial
Cruzeiro
Faceira
Janota
Paraíso
Proeminente
Quebra-cabeças
Sentimentos d'alma
10.04

Ernesto Nazareth embarca na Estação D. Pedro II com destino à Estação Norte, São Paulo, para uma turnê proporcionada por um grupo de admiradores na capital paulista. Apresenta-se em suas mais importantes salas: Theatro Municipal e Conservatório Dramático e Musical, interpretando suas composições. Seu recital no Municipal é precedido de uma palestra de Mário de Andrade. Apresenta-se também em Campinas, Sorocaba e Tatuí. Publica o tango Pauliceia, como és formosa!... em resposta ao acolhimento caloroso que recebeu do público paulista. No Rio de Janeiro, o escritor e crítico musical Andrade Muricy profere uma conferência analisando a obra de Ernesto Nazareth

Teatro Municipal São Paulo

1927
Cubanos
Dor secreta
Encantador
Marcha fúnebre
19.03

Após onze meses em São Paulo, embarca na Estação Norte rumo à Capital Federal, chegando na manhã seguinte à Estação D. Pedro II. Na bagagem traz consigo os manuscritos dos tangos Cruzeiro, Cubanos e Paraíso (estilo milonga) e da valsa Faceira. Retorna também com um piano Sanzin que lhe foi presenteado pelo público paulista, através de uma lista de subscrição que contou com o apoio de dezenas de admiradores.

Ernesto Nazareth entre amigos em São Paulo

1928
Cavaquinho, por que choras?
Ipanema

Vêm a público as três últimas composições editadas pela Casa Carlos Gomes, agora de propriedade do alemão Robert Donati. Duas de suas peças são gravadas por Francisco Alves e Vicente Celestino, os dois cantores de maior destaque da época no Brasil.

Piano Sanzin que foi presenteado ao compositor por admiradores paulistas

1929
Comigo é na madeira
Crises em penca!...
Exuberante
Feitiço não mata

Deixa Ipanema e passa a residir à Rua Bambina, nº 149, em Botafogo. 

07.02

No Instituto Nacional de Música participa de festa em benefício da Policlínica de Botafogo. No mesmo evento apresenta-se pela primeira vez em público a cantora Carmen Miranda. 

05.05

Falece aos 74 anos, de causas naturais, Theodora Amália, sua esposa.
Um mês depois, Ernesto Nazareth já reside em novo endereço: Rua Jardim Sul América (depois Rua Pires de Almeida), nº 76, apartamento 146 (atual 201), no bairro do Cosme Velho. Nessa época compõe três marchas carnavalescas, Exuberante, Crises em penca e Comigo é na madeira, além de  alguns hinos escolares. Entre 1929 e 1931 ainda pode ser visto na Casa Vieira Machado, à Rua do Ouvidor, nº 179, esquina com a Rua Uruguaiana. Nazareth escreve para seus contatos em São Paulo com o objetivo de voltar a tocar lá, porém a tentativa é frustrada devido à crise econômica.
 

Ernesto Nazareth e Carmen Miranda / Francisco Alves / Vicente Celestino / Foliões do Rio antigo

Foliões do Rio antigo

1930
Resignação

Junho – Termina de escrever sua última composição: a valsa lenta Resignação.

Setembro – Aceita convite feito por Eduardo Souto, então diretor artístico da Odeon-Parlophon, e grava Apanhei-te, cavaquinho, Escovado, Nenê e Turuna, tendo sido comercializado somente o disco que continha as duas primeiras músicas (as outras duas gravações foram consideradas “provas más” pela gravadora). Em Milão, Itália, são publicadas por G. Ricordi & C. Editori as Quatro peças brasileiras, para piano, de Francisco Mignone. São elas: Maroca, Maxixando, Nazareth, Toada. Assiste a um recital de Guiomar Novaes no Theatro Municipal, interpretando Chopin. Durante o recital é acometido de uma crise de choro, vendo-se obrigado a sair do teatro para evitar mais constrangimentos. Pega o primeiro bonde, nele ficando durante horas, de uma estação final a outra. Ao chegar em casa, repete as palavras “Por que eu não sou uma Guiomar Novaes?... – Por que eu não fui estudar na Europa?... – Se eu tivesse ido, eu seria uma Guiomar Novaes!...”.

Ernesto Nazareth aos 67 anos

1931
10.03

Apresenta-se em programa da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (atual Rádio MEC) executando as seguintes peças: Êxtase, Odeon e Improviso

19.03

Em decorrência da excelente repercussão alcançada com o primeiro programa, apresenta-se novamente em programa da Rádio Sociedade, agora interpretando Dora, Digo, Corbeille de fleurs e Nenê.

19.05

Apresenta-se na Rádio Mayrink Veiga, em programa especialíssimo, de uma hora de duração (à época os programas tinham de 5 a 15 minutos), interpretando treze músicas, em duas partes. I: Êxtase, Magnífico, Expansiva, Quebra cabeças, Turuna, Apanhei-te, cavaquinho e Corbeille de fleurs; II: Improviso, Celestial, Brejeiro, Turbilhão de beijos e Polonesa.

Estúdio da Rádio Mayrinck Veiga

1932
05.01

Apresenta-se em recital somente de músicas suas no Studio Nicolas, à Rua Alcindo Guanabara, nº 55, 2º andar. No programa: I Parte: Êxtase (romance), Improviso e Polonesa; II Parte: Expansiva (valsa) e Elegantíssima (valsa capricho); III Parte: Brejeiro, Tenebroso, Labirinto, Nenê, Gaúcho e Carioca (tangos). O pintor polonês Bruno Lechowski, que expunha alguns de seus quadros no Studio Nicolas, emocionou-se com a Polonesa de Nazareth e presentou-lhe com um de seus quadros.
Poucos dias depois, em companhia da filha Eulina e de Maria Mercedes, parte de navio para o Rio Grande do Sul, levando na bagagem sua última composição editada, Gaúcho, tango brasileiro oferecido “Ao Nobre Povo Gaúcho”.
 

28.01

Porto Alegre, recital na Casa Beethoven, à Rua dos Andradas nº 1.133. No programa: I Parte: Êxtase (romance), Improviso e Polonesa; II Parte: Expansiva (valsa), Pássaros em festa (valsa) e Elegantíssima (valsa capricho); III Parte: Brejeiro (tango), Escovado (tango), Favorito (tango), Nenê (tango), Turuna (grande tango característico brasileiro) e Gaúcho (tango). 

19.02

Rosário (do Sul), Recital no Clube Caixeiral. No programa: I Parte: Cesta de flores (“gavotte de expressão”) [substituída por Êxtase (romance)], Elegia (“só para a mão esquerda”) e Capricho; II Parte: Turbilhão de beijos (valsa) [substituída por Confidências (valsa)], Dora (valsa), Pássaros em festa (valsa) e Elegantíssima (valsa capricho); III Parte: Brejeiro (tango), Bambino (tango), Digo (tango característico brasileiro), Nenê (tango), Desengonçado (tango) [não executado], Labirinto (tango), Batuque (tango característico brasileiro) e Gaúcho (tango). 

26.02

Santana do Livramento, recital no Salão Nobre da Prefeitura. Derradeiro concerto de Ernesto Nazareth. Programa desconhecido. 

29.02

Ernesto, Eulina e Mercedes chegam de trem a Montevidéu. Pouco depois, durante um passeio por aquela cidade, sofre séria crise nervosa dentro da casa de instrumentos musicais de Julio Mousqués. De volta ao Rio, apresenta alguma melhora.

10.07

Já com surdez avançada, é diagnosticado como portador de sífilis, e é internado no Pavilhão Guinle do Hospício D. Pedro II, na Praia Vermelha.

Ingressos dos últimos recitais do compositor

Salão Nobre da Intendência Municipal Livramento

Hospício D. Pedro II ilustração do Séc. XIX

1933
19.01

Deixa o Pavilhão Guinle e retorna a sua casa. 

04.03

É internado novamente, dessa vez na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Sempre que possível, toca piano na casa do administrador da Colônia. Por vezes visita a Casa Arthur Napoleão, acompanhado de seu enfermeiro, sendo muito bem recebido por todos. No ano em que completa setenta anos reside à Travessa Dr. Araújo, nº 63, bairro do Matoso (atual Praça da Bandeira). Um segundo recital no Studio Nicolas é organizado, ingressos chegam a ser vendidos, porém o evento é cancelado. 

Colônia Juliano Moreira

1934
01.02

Em uma das visitas de Eulina, Ernesto lhe fala “Descobri um caminho para Laranjeiras. Basta que eu siga por ali, que eu chego lá em casa!...”. Ernesto Nazareth foge da Colônia no dia do aniversário de seu filho Ernestinho, vindo a falecer possivelmente nesse mesmo dia, por afogamento na represa da Colônia Juliano Moreira. 

04.02

Domingo de Carnaval, por volta das 18 horas, seu corpo é encontrado nas águas da represa que ainda existe na floresta situada aos fundos do manicômio. 

05.02

É sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, bairro do Caju.


Seu pai viria a falecer aos 101 anos, em 1940. Sua filha Eulina, superintendente da Educação e Ensino Elementar, faleceu em 1971, e doou parte do espólio do compositor à Biblioteca Nacional em 1963, o que resultou na exposição em comemoração ao seu centenário de nascimento. Seus filhos Ernesto Nazareth Filho (funcionário do Banco Ítalo-Belga) e Diniz (funcionário dos Correios) faleceram em 1962 e 1983, respectivamente. Nenhum deles deixou filhos, portanto não há descendentes diretos de Ernesto Nazareth. 

Diniz Nazareth e Ernesto Nazareth Filho

Cachoeira na qual foi encontrado o corpo de Ernesto Nazareth

Maria Mercêdes Mendes, Maria Alice Saraiva e Eulina Nazareth