DELIGHTFULNESS (DELÍCIA)

COMPOSIÇÃO

1922 (Circa)

1ª PUBLICAÇÃO

1922

Delightfulness (Delícia), fox-trot publicado em 1922 pela Casa Carlos Gomes, e dedicado ao "distinto amigo e colega Aurelino de Azevedo". faz parte do restrito grupo de quatro fox-trots compostos por Ernesto, sendo os outros: Nove de Maio,  If I am Not Mistaken e Até que Enfim!… . Os títulos são predominantemente em inglês, sendo que Até que Enfim!… possuía o título de Time is Money no manuscrito.Todos são peças pouco tocadas, e Delightfulness permanece inédito em gravação comercial até 2012.

Nazareth começou a explorar o gênero fox-trot a partir da década de 20, quando outros compositores brasileiros também passaram a fazê-lo. No CD-ROM Partituras Impressas publicado junto com o livro A Casa Edison e seu Tempo, de Humberto Franceschi (Biscoito Fino, 2002), encontramos pelo menos três partituras brasileiras do início do século com o subtítulo de “fox-trot”. E na propaganda da contracapa de uma das partituras contendo uma listagem de obras de Eduardo Souto, 3 fox-trots e 9 ragtimes estão presentes. Até mesmo o caçula do compositor, Ernesto Nazareth Filho, em sua reduzida obra compôs um fox-trot chamado Little Boy.

O fox-trot surgiu inicialmente como uma dança de salão americana no início do século XX, e originalmente era dançado sobre ragtimes, gênero já estabelecido havia algumas décadas nos EUA. É interessante especular se Nazareth chegou a conhecer o gênero, já que ele é frequentemente comparado ao “Rei do Ragtime”, Scott Joplin.

As semelhanças entre Joplin e Nazareth são múltiplas, e em geral são vistas quando se compara o rico colorido sincopado dos tangos brasileiros com a verve rítmica dos ragtimes. Ambos são estilos pianísticos sincopados, embora o ragtime seja nitidamente sincopado apenas na mão direita, enquanto que no tango brasileiro ambas as mãos dançam na síncope.

O ragtime provavelmente chegou ao Brasil no início do século XX, sendo inclusive utilizado pelo sambista Sinhô na peça Pianola, mas não existem ragtimes no espólio de partituras de Nazareth. Porém é provável que, quando trabalhava como pianista demonstrador em casas de partituras na década de 1910, Nazareth tenha executado alguns ao piano (para uma análise sobre a ligação entre Nazareth e a música negra americana, ver o ensaio A Influência Pianística na Obra de Ernesto Nazareth).

Contraditoriamente, é justamente nos fox-trots (que evoluíram a partir do ragtime) em que Nazareth menos se parece com Joplin. Em Delightfulness vemos um estilo derivado, marcado por um padrão rítmico único na obra de Nazareth, que define seus fox-trots, e os tornam diferentes de outros fox-trots da época.

Outro fator que torna esta obra atípica são as dissonâncias, que Nazareth aqui utiliza com mais liberdade do que na maior parte de sua obra. Além disso, há na partitura uma profusão incomum de termos musicais (em italiano, como convencionado na música clássica) e símbolos incluindo múltiplos acentos, ligaduras, staccatos, indicações de dinâmica (como p, ff, e tutta forza), indicações de andamento (como Moderato), e indicações de caráter (como pesante, e scintill).