‘AMENO RESEDÁ’, UM RANCHO CARNAVALESCO NA OBRA ERNESTO NAZARETH

Pedro Paulo Malta 08.03.2019

Embora não tenha entrado para a história como um grande folião, Ernesto Nazareth deixou uma quantidade considerável de obras dedicadas às festas de fevereiro: os tangos carnavalescos “Suculento”, “Jacaré”, “Fora dos eixos”, “Tudo sobe!...” e “Mariazinha sentada na pedra!...”, além do tango “1922” (em cujo manuscrito se lê: “samba – para o carnaval”) e da marcha “Exuberante”, editada postumamente em 1968, com dedicatória “ao Carnaval e ao Rei Momo”.

No entanto, a obra de Nazareth com referência mais explícita ao carnaval é “Ameno Resedá”, polca de 1913 que leva o nome do mais famoso dos ranchos carnavalescos, fundado em 1907 no bairro carioca do Catete, com as cores verde, amarela e grená, tendo como patrono o escritor Coelho Neto. Tricampeão do carnaval carioca (em 1912, 14 e 23), o Ameno ficou conhecido como “rancho-escola”, apelido aproveitado no título do livro que o cronista Jota Efegê dedicou à agremiação: “Ameno Resedá: o rancho que foi escola” (Letras e Artes, 1965).

Capa original do livro de Jota Efegê (Fonte: Internet)

Mas engana-se o leitor que imagina que o compositor fosse frequentador ou torcedor do famoso rancho. Segundo o biógrafo de Nazareth, Luiz Antonio de Almeida, a composição de “Ameno Resedá” teve como origem uma encomenda de Napoleão de Oliveira, carteiro e dirigente do Ameno, que contou em seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro que costumava ir à sala de espera do cinema Odeon para ouvir Nazareth tocar.

Certo dia, abordou o pianista: “Maestro, eu faço parte de um grêmio, uma coisa pobre, de operário, gente de cor. E eu tinha vontade que o maestro fizesse uma musiquinha dedicada ao meu clube, uma recordação.” Nazareth só perguntou “o nome do clube” e anotou em um papel, voltando em seguida ao piano. Dali a alguns dias, ao ver Napoleão no recinto, chamou-o: “Vem cá!” Abriu uma gaveta e lhe entregou a partitura: “Está aqui a música do seu clube, pode levar!”, como se lê no verbete de “Ameno Resedá” no site Ernesto Nazareth 150 anos.

Manuscrito autógrafo da polca "Ameno Resedá" (Acervo Biblioteca Nacional) 

Napoleão levou a partitura ao pistonista Bonfiglio de Oliveira, diretor de harmonia do rancho, que assim passou a ensaiar “Ameno Resedá”. A primeira edição em partitura saiu no próprio ano de 1913, pela Casa Arthur Napoleão (clique aqui para ver), e a gravação inaugural veio em 1914, pelo Grupo do Louro, no selo Odeon Record.

Selo do disco Odeon 120.828 (Acervo José Ramos Tinhorão / Instituto Moreira Salles)

Regravada pela primeira vez em setembro de 1946 (por Garoto e o Clube da Bossa), tornou-se uma das músicas mais conhecidas e gravadas do repertório de Ernesto Nazareth. Clique aqui para ouvir todas as gravações de “Ameno Resedá”, disponíveis no site Ernesto Nazareth 150 anos.

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