BREJEIRO

COMPOSIÇÃO

1893 (Circa)

1ª PUBLICAÇÃO

1893

Brejeiro foi o primeiro tango brasileiro de Ernesto Nazareth, publicado em 1893 por Fontes & Cia. Foi dedicado a seu sobrinho Gilberto de Meirelles Nazareth, o Gigi (1887-1903). Foi vendido a seus editores pela ínfima quantia de 50$000 (cinqüenta mil-réis). Esta peça foi o maior sucesso de Ernesto Nazareth durante sua vida, e um dos maiores sucessos da música popular brasileira do século XIX, especialmente depois que recebeu letra de Catullo da Paixão Cearense, sob o título de O sertanejo enamorado (em duas versões diferentes). Por volta de 1910, foi gravada sob o título de Ai rica prima, com letra diferente, e na década de 1950 recebeu outra letra, de José Maugeri Neto e Antônio Maugeri Sobrinho, menos conhecida.

Recebeu diversas reedições, e tamanho foi o lucro alcançado pelos editores, que estes realizaram uma festa em homenagem a Ernesto, dando-lhe de presente um guarda-chuva com castão de ouro. Em 1914 foi publicada e gravada nos EUA e Europa, tendo alcançado grande sucesso internacional, juntamente com seu maxixe Dengoso. A informação de que teria sido gravada pela Banda da Guarda Republicana de Paris não se confirma, pois até 2012 não foi encontrada a referência desta gravação. 

Em entrevista à Folha da Noite em 1926, o autor respondeu:

"- Mas qual é a sua composição predileta?
- Ah!... Isso é que não póde ter resposta definitiva, assim à queima-roupa... Gosto de algumas... Lembra-se do Brejeiro?
- Como não?
"Ai, ladrãozinho! Dos teus labios de coral. (Tem dó!)
Dá-me um beijinho! Não te póde fazer mal. (Um só!)"
- Todo o Brasil canta isso - concluiu ele num sorriso"

Até 2012 foram contabilizadas 237 gravações de Brejeiro, feitas em todo o mundo, sendo a segunda música mais gravada de Nazareth, depois de Odeon.

Letra de Catullo da Paixão Cearense, sob o título de O sertanejo enamorado (1ª versão)

1ª parte
Ai, ladrãozinho
Dos teus lábios de coral (tem dó)
Dá-me um beijinho
Não te pode fazer mal (um só)

Tu és tirana, eu bem sei!... Meu amor.
Meu coração, ó serrana, eu te dei
Valha-me Deus!
É penoso viver, ai... a gemer.

Na minha choça,
Teu escravo sou até!
Tenho uma roça
E esta casa de sapé

Foi para dar-te que a fiz...
Aqui vivo, por amar-te, feliz, ai meu Deus
Nela contigo eu serei mais que um rei...
Ai... mais que um rei.

2ª parte
Eu canto em minha viola
Ternuras de amor
Mas de muito amar!
O choro as mágoas consola!
Teu fero rigor
Quer minha vida acabar, acabar...

Eu canto a dor no meu pinho,
Com tanto carinho
Tu podes crer,
Que eu vou para a morte cantando,
Que a vida, penando,
Por ti dá prazer.

1ª parte
Teu riso cheira,
Como um galho de alecrim
És feiticeira!
Queres dar cabo de mim!

Ouve o suspiro de amor, estes ais,
Que d'alma tiro de dor! (Ora ladrão!)
Não me maltrates assim...
Ai de mim!... ai... ai de mim!

Eu sinto o cheiro
O cheirosíssimo odor
De um cajueiro
Carregadinho de flor.

Quando tu passas assim, de manhã,
Por estes matos sem fim, sem olhar
Uma só vez para mim!...Ai de mim!
Ai... ai de mim!

2ª parte
Eu canto a dor na viola
E a dor me consola...
Tu podes crer.
Morrendo, por ti sofrendo
Vou morto, vivendo,
Vivendo a morrer, a morrer...

Eu sou jaçanã ferida,
Gemendo de dor, lá na solidão.
Minh'alma, toda sentida
soluça de amor,
nesta pobre canção.

1ª parte
És flor do ipê,
Dos sertões do meu Brasil
És a irerê,
Da lagoa cor de anil!

Se vais ao monte roçar ou se vais
Água na fonte buscar... Valha-me Deus
Segue-te o meu coração, rente ao chão!...
Ai... rente ao chão!

Como eu sou rico
se me cresce o milharal (sou rei)
Ai! como eu fico
Se floresce o cafezal! (nem sei)

Mas fico mudo sem ti! Chora tudo, tudo,
Tudo d'aqui. Ai minha flor!...
Não me apoquentes assim...
Ai de mim!... ai... ai de mim!

Letra de Catullo da Paixão Cearense, sob o título de O sertanejo enamorado (2ª versão) (dedicada ao escultor Corrêa Lima)

1ª parte
Ai, meu benzinho. 
Flor do meu torrão natal!
Dá-me um beijinho,
Não te pode fazer mal!
Mas és tirana, eu bem sei! Meu amor
Tudo que é meu já te dei! Meu Quindim!
Não me machuques assim! Ai de mim! 
Ai, ai de mim
 
1ª parte
Eu sinto o cheiro.
O cheirosíssimo odor
De um cajueiro
Carregadinho de flor,
Quando tu passas assim, de manhã
Por estes matos sem fim, sem olhar
Uma só vez para mim!... Ai de mim!
Ai de mim.
 
2ª parte
Eu canto a dor na viola
E a dor me consola...
Tu podes crer!
Morrendo, por ti sofrendo,
Vou, morto, vivendo,
Vivendo a morrer!
 
Eu canto a dor no meu pinho,
Com tanto carinho,
Tu podes crer,
Que eu vou para a morte cantando,
Que a vida, penando,
Por ti dá prazer.
 
1ª parte
Na minha roça,
Neste meu caxitoré,
Tenho uma choça,
Uma casa de sapé!
Foi para dar-te que a fiz e viver
Nela contigo feliz! Meu Quindim!
Não me apoquentes assim!... Ai de mim!
Ai, ai de mim.
 
1ª parte
Como eu sou rico,
Se me cresce o milharal!
Ai, como eu fico,
Se floresce o cafezal!
Mas vivo mudo, sem ti, sem te ver,
Penso que até já morri! Meu Quindim!
Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai!
Ai! Ai de mim!!
 
2ª parte
Eu canto a dor na viola
E a dor me consola...
Tu podes crer!
Morrendo, por ti sofrendo,
Vou, morto, vivendo,
Vivendo a morrer!
 
Eu canto a dor no meu pinho,
Com tanto carinho,
Tu podes crer,
Que eu vou para a morte cantando,
Que a vida, penando,
Por ti dá prazer.
 
1ª parte
Quando, às trindades,
Vais passando por aqui
Quantas saudades
Vai deixando atrás de ti!
Ouve-se um grito dali,  uma voz,
Longe, a gritar: - Bem-te-vi, para, então,
Meu coração te seguir rente ao chão...
Ai, rente ao chão
 
1ª parte
És flor do ipê
Dos sertões do meu Brasil!
És a irerê
Da lagoa cor de anil!...
Eu sou um corrupião, 
Um canchão
Deste formoso sertão,
Que nasceu somente para cantar
E viver só por te amar
 

Letra de Antônio Maugeri Sobrinho

1ª parte
Um cavaquinho, uma flauta e um violão
Uma seresta embalando o coração
Um trovador sonhador a cantar
Dizendo coisas de amor ao luar
Pra sua amada que dorme e que sonha despertar

Vaguei a Lua lá no céu a espiar
Senti ciúme da seresta ao luar
E quando a amada descer e entregar
Seus lábios quites querendo beijar,
A Lua errante se esconde e começa a chorar

2ª parte
Brejeiro de Nazareth que chorinho gostoso que sensação
Brejeiro é seresteiro e é bem brasileiro do meu coração, ai que bom!
Brejeiro que cobre as noites com todo o romance na cerração
Brejeiro teu nome sagrado eu guardo no fundo do meu coração


Letra de autor desconhecido (transcrita a partir da gravação do cantor Campos realizada por volta de 1910, sob o título de Ai rica prima)

1ª parte
Ai rica prima, quem será teu namorado (coitado!)
Muito dinheiro, deve ser para gastar (ou dar)
Toma cuidado, meu caro amiguinho
Que a prima gosta do salário no bolso
Depois não diga "Ai Jesus!", "Santo Antonio!",que (?)

2ª parte
Não sei se alguém conhece a minha priminha que rica é
É carta que não se joga às marolas dengosas pela maré
Quem quiser tratar com ela prepare a costela para sangrar
É geniosa, menina, não há disciplina que a faça acalmar!

1ª parte
Ai rica prima, não posso viver sem ti aqui
Sem teu olhar, não pretendo mais passar no mar
Teu lindo canto vem lenir meu pranto
Eu sofro tanto pelo teu amor
Ai rica prima tu és o meu ímã sedutor

2ª parte
Não sei se alguém conhece a minha priminha que rica é
É carta que não se joga às marolas dengosas pela maré
Quem quiser tratar com ela prepare a costela para sangrar
É geniosa, menina, não há disciplina que a faça acalmar!

1ª parte
Cedo desperta, a dor vem ficar em mim aqui
Ai como fico, com priminha, meu benzinho amor
Ai como és bela ó prima do meu coração
Teu nome faz rima na minha canção
Vem cá priminha meu anjo, meu bem, meu (?) 

 

Letra de Andra Valladares

 

Tantas promessas você me fez com seu olhar.
Catei meus sonhos, joguei ao vento pra te dar
mas nem a ilusão da promessa restou,
deste olhar que meu peito abrasou
com a marca cruel da paixão que ficou...
 
Você me rende com esse sorriso sedutor.
Brinca, se esconde, e foge assim do meu calor...
Mas vem! Mil novenas eu tenho cumprido,
Santo Antônio e Santo Expedito
já pediram as contas no céu, que papel!
 
Eu bem que te dei motivos pra você olhar e gostar de mim,
fiz dieta o ano inteiro, pintei o cabelo e a boca em tom de carmim.
Eu bem que ouvi estrelas nos versos de amor que Bilac fez,
olhando pro céu à noitinha pedi a uma estrela cadente: você!
 
Eu bem que te dei motivos pra você olhar e gostar de mim
Fiz dieta o ano inteiro, pintei o cabelo e a boca em tom de carmim...
Eu já fiz de tudo mesmo pra você acordar e me amar, enfim.
Um dia te prendo em meu laço, num abraço e te faço todinho pra mim!