ELO ENTRE MESTRES DO PIANO: AS COMPOSIÇÕES DE NAZARETH INTERPRETADAS POR CUSTÓDIO MESQUITA

Pedro Paulo Malta 12.04.2019

Compositor de destaque na chamada “era de ouro” do rádio, o carioca Custódio Mesquita era conhecido também pelos dotes de pianista. Em sua vida curta, de 35 anos incompletos (1910-1945), fez sucesso principalmente por composições como o samba-choro “Quem é?” (com Joracy Camargo, em 1937) e os foxes “Nada além” (com Mario Lago, 38) e “Mulher” (com Sadi Cabral, 40). Porém, deixou poucos registros de sua atuação ao piano.

Como pianista acompanhante, há gravações marcantes: uma é a primeira do samba “Seja breve” (Noel Rosa), em 1932, quando seu piano batucado se faz ouvir com os cantores Luiz Barbosa e João Petra de Barros. E também quando acompanhou os intérpretes em lançamentos de composições suas, como “Noturno em tempo de samba” (parceria com Evaldo Ruy), gravado por Sylvio Caldas em 1944, e a valsinha “Antigamente era assim” (co-assinada por Ary Monteiro), lançada em 1943 por Carlos Galhardo.

Custódio Mesquita (Fonte: Internet)

Já como solista, são dez as gravações conhecidas de Custódio, todas realizadas em 1943, na Victor, com acompanhamento de uma orquestra de salão formada pelo próprio (“Custódio Mesquita e sua orquestra”, como se lê no selo dos discos), com acompanhamento de sopros e cordas. Outro ponto em comum entre as gravações: em todas elas Custódio toca composições de Ernesto Nazareth – artista falecido havia nove anos (1934) e cujas obras aprendeu a tocar e a admirar nas aulas com o professor Otaviano Gonçalves.

Disco da coleção Humberto Franceschi / Instituto Moreira Salles

Coube a Custódio escrever os arranjos, que foram levados a estúdio pela primeira vez em 1º de março de 1943, data das gravações da valsa “Eponina” e do tango brasileiro “Brejeiro”. Em maio Custódio voltou à Victor para gravar mais quatro “nazareths”: as valsas “Expansiva” e “Gotas de ouro” e os tangos “Bambino” e “Escovado”. Já em agosto, foram duas sessões: no dia 16, foram gravadas a valsa “Faceira” e a polca “Apanhei-te cavaquinho” e, no dia 19, foi a vez da valsa “Coração que sente” e do tango “Escorregando”.

clique aqui para ouvir as gravações das dez composições de Nazareth por Custódio Mesquita

Na biografia “Custódio Mesquita: prazer em conhecê-lo” o autor Bruno Ferreira Gomes informa que as gravações foram feitas “sem visar lucro, mas apenas para ajudar uma filha de Nazareth que ele encontrou na SBAT (a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, da qual Custódio fazia parte desde 1933) na mais triste miséria, pois não lhe pagavam os direitos autorais do seu genial pai”. Vale ressaltar ainda os serviços prestados por Custódio à própria memória de Nazareth, que nesta dezena de regravações tem um importante impulso fonográfico à sua obra, que pouco depois teve regravações feitas por Jacob do Bandolim e Radamés Gnattali.

Outra prova da admiração de Custódio Mesquita por Ernesto Nazareth está no samba-choro “Flauta, cavaquinho e violão”, composição dele com Orestes Barbosa gravada por Aracy de Almeida com acompanhamento de Rogério Guimarães e seu conjunto: Nazareth é lembrado tanto na melodia (na qual se ouve o tema de “Brejeiro”) quanto na letra: “No rio dos sonetos de Bilac só de fraque / É que se frequentava os cabarés / E havia para as grandes confissões dos corações / Os tangos de Ernesto Nazareth...”

clique aqui para ouvir a gravação lançada pela Odeon em julho de 1945, quatro meses após a morte de Custódio Mesquita

TAGS História

COMENTAR