ERNESTO NAZARETH E OS GOGÓS DE OURO DA MÚSICA BRASILEIRA

Pedro Paulo Malta 28.11.2018

É vasta a lista de intérpretes de Ernesto Nazareth: tem Jacob do Bandolim, o violonista Dilermando Reis e pianistas que dedicaram discos inteiros às composições dele, como Radamés Gnattali, Arthur Moreira Lima, Carolina Cardoso de Menezes e Maria Teresa Madeira, entre outros. Outro destaque dessa lista são os cantores, que se por um lado são franca minoria (numa obra predominantemente instrumental) por outro têm os vozeirões mais notórios da música popular brasileira na primeira metade do século 20: Vicente Celestino e Francisco Alves, que aliás gravaram seus primeiros nazareths no mesmo ano: 1928.

Vicente Celestino emprestou seu canto operístico à modinha “Êxtase”, lançada nos dois lados de um mesmo disco 78 rotações da Odeon (clique para ouvir). Com letra assinada por Frederico Mariath da Silva Souto, a música havia sido lançada em partitura em maio de 1926, pela Casa Campassi & Camin. Na edição impressa, “Êxtase” é identificada como romance e tem duas dedicatórias: na capa, “à Sra. Ambrosina da Motta Rezende, como prova de gratidão e alta estima”. Já na partitura, Nazareth dedica sua composição à cidade de São Paulo, ou melhor, “à culta Paulicéa, como prova de gratidão”.

Já Francisco Alves lançou “A voz do amor”, uma polca-lundu que originalmente se chamava “Cuyubinha” (editada em partitura em 1893, pela Fontes & Cia.) e recebeu novo nome após ser letrada por Maria Stella Quirino dos Santos. O título original da composição – que é dedicada à filha de Manuel L. de Araújo, amigo de Nazareth – é uma referência à cuiuba, espécie de ave da família dos papagaios (também conhecida por tuim), originária do centro-oeste brasileiro. Na gravação de Francisco Alves, lançada em junho de 1928, também pela Odeon, o acompanhamento é da Orquestra Rio Artists (clique aqui para ouvir).

Outra composição de Ernesto Nazareth gravada pelo Rei da Voz saiu em disco no ano seguinte: o tango-brasileiro “Favorito”, lançado pela Odeon em dezembro de 1929, sem crédito para o autor dos versos (clique para ouvir). O cantor Eduardo das Neves já havia gravado esta versão de “Favorito” em 1915, mas com título diferente (“Amor avacalhado”) e sem crédito para Ernesto Nazareth. Outras duas letras foram feitas para esse tango de Nazareth: uma com versos de Moreira Sampaio, que rebatizou a música com o nome de “Tango do Sacco do Alferes e Cidade Nova” e a incluiu na revista “O Rio nu” (1896); e outra de autoria desconhecida (mais uma!), gravada pelo cantor Mário Pinheiro em 1910.

Já a primeira gravação instrumental de “Favorito” saiu em 1912, num dueto de Pedro de Alcântara (flautim) com o próprio Nazareth (piano), que dedicou a composição a sua filha Marietta, como se lê na partitura original, de 1895 (clique aqui para ouvir).

Assim como Francisco Alves, Vicente Celestino fez uma segunda gravação com uma composição de Nazareth: o tango brasileiro “Sertanejo enamorado”, título da versão letrada do famoso “Brejeiro”, com versos de Catullo da Paixão Cearense. Gravação lançada em 1960 pela RCA Victor, por onde o cantor fez os LPs da fase final de sua discografia. Vale a audição do leitor (clique aqui), especialmente pelos gracejos e sutilezas que – em tempos de bossa nova – já faziam parte do universo vocal do Caruso brasileiro.

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