A INDÚSTRIA DE ROLOS DE PIANO BRASILEIROS (PARTE 1)

Alexandre Dias 06.12.2013

[Continua na Parte 2]

Na sala decorada para o Natal, vemos um piano de cauda tocando sozinho, e uma pianista na TV. O piano está reproduzindo em tempo real o que a pianista toca por meio da tecnologia do Yamaha Disklavier TV

Este sistema futurista, digno de um conto de Primo Levi, de fato existe, e está sendo usado para transmitir diversos concertos de pianistas clássicos e de jazz para casas que possuam o instrumento em qualquer lugar dos EUA.

Porém a sua origem talvez soe mais surpreendente, remontando a mais de 100 anos. Desde o final do século XIX já existe um mecanismo que permite um piano reproduzir músicas sem a presença do pianista: trata-se dos rolos de piano, executados pelas pianolas

Breve histórico

A ideia de instrumentos autômatos executando músicas vem sendo aperfeiçoada há alguns séculos por meio de caixas de música, carrilhões de relógios, e órgãos. Porém foi apenas no final do século XIX, nos EUA, que se conseguiu encontrar uma solução para a construção de pianos automáticos. Por meio de um engenhoso sistema pneumático e um rolo de papel perfurado, a pianola reproduzia músicas previamente programadas nos furos do rolo: as teclas abaixavam sozinhas, e a pessoa podia ouvir seu próprio piano executando uma música.

Os rolos eram furados manualmente nas fábricas, e podiam reproduzir basicamente qualquer tipo de música, inicialmente em uma extensão de 65 teclas, que depois passou a abarcar todas as 88 teclas. As músicas soavam basicamente como arquivos MIDI: com pouca expressão ou variações de andamento. A pianola era acionada por meio de pedais, que o “pianolista” bombeava durante a execução da música. Dessa forma a pessoa podia ter a sensação de que estava tocando a peça.

Fonte: The Pianola Museum

 

Exemplo de uma pianola executando um rolo de piano

Considerando que isto precedeu em alguns anos a consolidação da indústria fonográfica no mundo e em algumas décadas as primeiras transmissões de rádio (que aconteceram no Brasil em 1922), a pianola oferecia valiosas possibilidades para a propagação da música nos lares.

Exemplo de um piano automático.Fonte: Blog "Herdeiro do Aécio".

E, de fato, logo as casas de música americanas ficaram abarrotadas de pianolas e piano rolls que cobriam uma ampla gama de gêneros musicais, tanto populares quanto eruditos, produzidos por diversas empresas. Estima-se que, em 1926, quando as pianolas estavam no auge de vendas, cerca de 11 milhões exemplares de rolos foram fabricados apenas pela empresa americana QRS.

A partir de do início da década de 1910, tornou-se possível um pianista gravar sua interpretação nos rolos de piano, que registrava não só as durações de cada nota, mas também informações precisas de acentuação, dinâmica (fortes e fracos) e pedalização. Eram os chamados rolos “hand-played”, em oposição aos que eram arranjados (i.e. furados manualmente). Agora uma pessoa poderia ouvir um grande pianista tocando em seu próprio piano (como uma espécie de fantasma, já que as teclas abaixavam sozinhas).

Com este novo sistema, utilizado por várias fabricantes, dezenas de concertistas foram contratados para eternizar suas interpretações em rolos, incluindo Vladimir Horowitz, Ferruccio Busoni e Sergei Rachmaninoff . (Acesse este link para uma “rolografia” abrangente destes e de outros pianistas). Na maioria dos casos, isto aconteceu antes que estes artistas começassem a gravar discos em estúdio. 

Na coleção Masters os the Roll, de 32 CDs, podemos ouvir dezenas destes rolos hand played. Porém é um engano pensar que eles são uma transferência exata da interpretação do pianista, pois muitos deles eram retocados. Por exemplo, os rolos gravados pelo pianista suíço Alfred Cortot não contêm erros, enquanto que suas gravações acústicas apresentam esbarros frequentes (compensados por uma musicalidade sobre-humana).

Na esfera popular, alguns dos rolos mais famosos são os de George Gershwin, Jelly Roll Morton e Scott Joplin, mas que podiam ser inteiramente rearranjados, com acréscimos de várias notas por parte do funcionário das fábricas de rolos.

George Gershwin, Jelly Roll Morton e Scott Joplin, pianistas/compositores que gravaram rolos de piano 

Curiosamente, esta nova mídia musical despertou o interesse de diversos compositores modernistas, que passaram a criar obras especificamente para rolos de piano, por oferecerem capacidades polifônicas além do que os dez dedos de um pianista poderiam tocar. Stravinsky escreveu um “Étude pour pianola” em 1917, e Paul Hindemith compôs a “Toccata für das mechanische klavier”. Para ler mais a respeito das composições originais para pianola, acesse este link

Selo do rolo contendo o “Étude pour pianola” de Igor Stravinsky (fonte: The Pianola Institute)

A indústria de pianolas no início do século XX viu o surgimento de vários aperfeiçoamentos, como o Metrostyle, que fornecia uma indicação da variação do andamento ao longo da peça por meio de uma linha vermelha que percorria o rolo, e o Themodist, que destacava  a linha melódica tocando-a mais forte, fazendo uso da separação dos registros agudos e graves introduzida por volta de 1903.

Neste vídeo é possível ver a demonstração de uma pianola (aparelho que é conectado externamente a um piano).

Rolo de piano utilizando o sistema Metrostyle, da Aeolian Company, que continha uma linha vermelha a ser seguida por uma ponteira operada pelo pianolista, resultando em fraseados da interpretação mais autênticos. Fonte: The Pianola Institute.

Logo surgiram também pianolas de cauda, que eram usadas até mesmo em concertos, e pianolas elétricas, que não exigiam mais a ação dos pedais.

No final da década de 1920, depois de um crescimento massivo, a indústria de pianolas teve seu declínio, na medida em que os discos 78-RPM ganhavam espaço no mercado, juntamente com as transmissões de rádio.

Como era de se esperar, os rolos hoje são objetos de interesse de milhares de colecionadores em todo o mundo, que possuem pianolas restauradas e se comunicam através diversas listas de discussão como MMDigest, e Player Piano Talk no facebook. Vários rolos têm sido preservados em gravações de CD, e até mesmo arquivos midi, que podem ser reproduzidos com qualquer som de piano sampleado (veja aqui um interessante manual sobre como escanear um rolo e fazer esta conversão). No youtube vicejam vídeos contendo execuções de pianolas (ver os canais de Horacio Asborno e de Julian Ignacio Zabaloy, por exemplo, colecionadores especialistas em rolos de piano sul-americanos), e existe até um museu dedicado ao instrumento em Amsterdã. 

No Brasil, as pianolas são hoje muito desconhecidas, e estão no máximo ligadas à imagética dos saloons do velho oeste:

Fonte: Blog "Herdeiro do Aécio".

Porém, no início do século XX, as pianolas e os rolos de piano tiveram uma participação importante na vida musical brasileira, com uma indústria que produziu centenas de rolos contendo música de compositores brasileiros, e sobre a qual ainda não se escreveu em profundidade.

Casas de pianola no Rio de Janeiro

Na Hemeroteca Digital Brasileira (memoria.bn.br), a busca pela palavra “pianola” retorna 5.775 ocorrências para jornais cariocas, especialmente das décadas de 1910 e 1920, o que fornece uma medida da participação das pianolas no início do século. Estes resultados correspondem a diversas propagandas de casas de música que vendiam pianolas e rolos de piano, anúncios específicos de rolos, e vendas particulares nos classificados (alguns colecionadores anunciavam pianolas juntamente com lotes de 200, 300 e até mesmo 400 rolos).

Desde 1902, a pianola já existia no Rio de Janeiro em pelo menos um palacete, porém ainda como um instrumento comprado nos EUA. (matéria publicada no jornal O Paiz em 15 de agosto de 1902)

Em 1906, foi exibida a primeira pianola em Fortaleza, na Fênix Caixeiral, segundo o livro “Cronologia ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo histórico e cultural, Volume 1”, de Nirez (UFC, Casa de José de Alencar Programa Editorial, 2001).  E, em 1907, a famosa Casa Arthur Napoleão (RJ) anunciou que recebeu “o primeiro exemplar da célebre pianola (...), instrumento que é a última palavra do gênero, uma maravilha da mecânica”. (matéria publicada no jornal O Paiz em 21 de agosto de 1907).

O invento foi muito bem recebido pela classe média-alta. Desde o início a pianola foi sinônimo de status social, assim como o piano, e ter uma em casa significava poder oferecer às visitas músicas variadas executadas em um instrumento real (na época o rádio ainda não existia, e os discos mecânicos ofereciam uma sonoridade ainda bastante rudimentar). A partir de 1908 há menções de paquetes que continham pianolas, animando bailes a bordo. E, em 1910, o Jornal do Commercio anunciou uma audição da pianola “com os seus recentes aperfeiçoamentos’, em seu prestigiado salão.

Nesta época, as pianolas passaram a ser usadas em salas de projeção de cinema no Brasil, com projetores sincronizados a uma pianola.

A partir do início da década de 1910, vemos o surgimento de diversas casas de música especializadas na venda de pianolas e rolos de piano, gerando um mercado altamente competitivo, que investia pesadamente em anúncios de jornal. Os preços tornaram-se gradativamente mais acessíveis, e a classe média da pianópolis (como era chamado o Rio na época) passou a procurar este produto avidamente.

Na verdade, entre 1901 e 1928, houve 99 marcas relacionadas a "pianola", "rolos de pianola", ou "rolos perfurados" registradas no Rio de Janeiro, tanto de empresas brasileiras como estrangeiras (segundo consta no livro “Registro Sonoro por meios mecânicos no Brasil”, HMF, 1984, de Humberto Franceschi). Este é um número que compete com a própria indústria discográfica da época, provavelmente suplantando-a até a década de 1920, quando começaram a surgir as primeiras transmissões de rádio e o processo de gravação elétrica.

Abaixo veremos algumas das principais casas de pianola, que possuíam maior representatividade nos anúncios de jornais entre as décadas de 1910 e 1930. Todas as imagens provêm da Hemeroteca Digital Brasileira, salvo quando indicado diferente na legenda.

Casa Standard

A Casa Standard, localizada na Rua do Ouvidor nº 93 e 95, foi provavelmente a primeira casa a se especializar na venda de pianolas e rolos no Brasil. De propriedade de de A. Campos & Cia., já em 1908 lançou um catálogo de rolos de pianola, que provavelmente consistiam inteiramente de produtos importados, considerando que não há evidências de que o Rio de Janeiro já possuía máquinas para perfurar rolos neste ano.

Catálogo de rolos para pianola da Casa Standard, lançado em 1908. Provavelmente o primeiro catálogo de rolos de piano no Brasil. Fonte: livro “Registro Sonoro por meios mecânicos no Brasil”, HMF, 1984, de Humberto Franceschi
Seus anúncios de jornal estão concentrados entre 1910 e 1913 e faziam propaganda dos pianos Ritter e da pianola Rex (ou “Pianista Rex”), que "toca sem parecer realejo".

A Casa Standard forneceu algumas pianolas Rex para os seguintes palácios em 1909: Palácio do presidente (Rio), Palácio do Governo (São Paulo), Palácio do Governo (Vitória), Palácio do Governo (Belo Horizonte), Palácio do Governo (Maceió, Alagoas), Palácio do Governo (Fortaleza, Ceará).

Em 1911, a Casa Standard já possuía a 3000 rolos à venda, número este que fornece uma medida do mercado aquecido de pianolas no Rio de Janeiro.

Anúncio da Casa Standard, 1911. No final lê-se “Acabam de chegar 3.000 músicas para o Piano e Pianista REX”.

No mesmo ano, a Casa Standard anuncia uma novidade no mundo dos instrumentos automáticos, o Violano-virtuoso, que consistia em um híbrido de piano com um violino (ou dois), e havia acabado de ser lançado nos EUA. Neste vídeo é possível ver um instrumento restaurado funcionando.

Matéria anunciando a estreia do Violano-virtuoso no mercado Brasileiro, 1911.

Em 1912, a Casa Standard foi processada por uma outra casa de música, não nominada, que alegava exclusividade sobre a venda de rolos de piano. Esta provavelmente era a Casa Beethoven, sobre a qual falaremos a seguir.

Matéria sobre o processo contra a casa Standard, 1912

A Casa Standard anunciou logo em seguida uma grande liquidação, na qual lemos a informação que de que possuíam a impressionante (e talvez improvável) cifra de cem mil rols de piano.

Anúncio de liquidação da Casa Standard, 1912

Anúncios da Casa Standard, 1912 e 1913.

Casa Beethoven

Propaganda da Casa Beethoven, 1910 .

A Casa Beethoven, inaugurada em 10 de novembro de 1909 e localizada na Rua do Ouvidor nº 175, foi o estabelecimento mais importante ligado ao mercado de pianolas e rolos de piano no Rio de Janeiro. Seu dono, Carlos do Nascimento e Silva, investiu em numerosas e variadas propagandas nos jornais a partir de 1910 até pelo menos 1930, muitas vezes em tamanho grande nas páginas de jornais. Os primeiros anúncios apresentavam a pianola como uma grande novidade:

Propaganda da Casa Beethoven ,1910 . 

Propaganda Casa Beethoven , 1910, com menção ao sistema Metrostyle. Na ilustração vê-se uma pianola (instrumento externo que é acoplado ao piano).

Em 1910, a Casa Beethoven anunciou que fazia concertos todas as tardes para exibir as pianolas em ação.
A partir de 1911, passam a anunciar rolos de piano brasileiros, que se tornariam mais numerosos em 1912, 1913 e 1914. Foram lançados pelo menos dois catálogos de rolos, um em 1912 e outro em 1914 (ver tópico “Rolos de piano brasileiros”).

Simultaneamente, as propagandas de instrumentos automáticos se intensificaram, reforçando que o nome “pianola” era uma marca registrada pela Casa Beethoven, e que não se devia confundi-lo com outras marcas.

Propaganda da Casa Beethoven, 1911.

Propaganda da Casa Beethoven, 1911, mencionando as tecnologias Metrostyle e Themodist.
Algumas propagandas enalteciam a pianola como um instrumento superior ao “piano manual” (i.e. o piano tradicional), que iria “muito em breve desaparecer”.

Propaganda da Casa Beethoven, 1911.

Neste ano é apresentado também o órgão automático Orchestrelle (da empresa americana Aeolian), que provavelmente competia com o Violano-virtuoso da Casa Standard.

Matéria apresentando o órgão Orchestrelle, 1911.

Matéria sobre a tecnologia Metrostyle, utilizada nos rolos vendidos pela Casa Beethoven, 1912.

Propaganda da Casa Beethoven, 1912. A linha traçada ao longo do rolo representa a tecnologia Metrostyle, que oferece uma indicação para se alterar a velocidade do rolo, conferindo assim maior naturalidade à interpretação da música.

A partir de 1912, a Casa Beethoven passa a utilizar uma nova estratégia de marketing com muitas frases de efeito, e um toque de humor, como:  “Só há um Deus e também só há um piano-pianola”, “Dos arrependidos será o reino dos céus”, “V. Exª deseja tocar como Paderewski??”, “O pianola Duo-art toca o piano, as imitações batem o piano”, “Pianola é só uma: a nossa. As demais são... qualquer cousa”.

Propaganda da Casa Beethoven, 1912. A Pianola “eclipsa” todas as outras marcas de pianos automáticos.

Propaganda da Casa Beethoven, 1912.

Casa Beethoven, 1915. “O sonho de Natal”.

Propaganda da Casa Beethoven, 1918.

Até mesmo o Papa Pio X é apresentado como um entusiasta do instrumento:
 

Propaganda da Casa Beethoven, 1912, com menção ao Papa Pio X.

Algumas propagandas forneciam listagens de rolos específicos, consistindo em preciosas fontes de pesquisa para a música brasileira:

Propaganda da Casa Beethoven, 1912. Fonte: livro “Registro Sonoro por meios mecânicos no Brasil” (HMF, 1984) de Humberto Franceschi.

Propaganda da Casa Beethoven, 1912.

Propaganda Casa Beethoven ,1927, incluindo na listagem rolos da “Fábrica Pianauto”.

Em 1913, são anunciadas os primeiros pianos autográficos, movidos a energia elétrica, e rolos autográficos, supostamente de material e acabamento superiores.

Propaganda da Casa Beethoven, 1913, com menção aos pianos autográficos movidos a eletricidade. 

Propaganda da Casa Beethoven, 1913, com menção aos pianos autográficos movidos a eletricidade. 

Neste mesmo ano, é anunciado um novo material utilizado na fabricação de rolos de piano, patenteado por Augusto Guigon, “em que a música não sofre alteração com a mudança de tempo”. A Casa Beethoven já contava com 2000 rolos em seu estoque a esta altura.

Propaganda da Casa Beethoven, 1912-1913.

A partir de 1914, começam a ser invocados nomes de pianistas para recomendar a pianola. Paderewski, Octaviano Gonçalves e Guiomar Novaes são nomes frequentes:

Propaganda da Casa Beethoven, 1914, com menção ao pianista polonês Ignacy Paderewski.

Propaganda da Casa Beethoven, com menção ao piano autográfico, recomendado por Octaviano Gonçalves, 1915.

Propaganda da Casa Beethoven, 1922, mencionando rolos gravados por Guiomar Novaes entre 1918 e 1919 nos EUA.

Propaganda da Casa Beethoven, 1923, com recomendação assinada por Guiomar Novaes.

A partir da década de 1920, a Casa Beethoven intensifica seus anúncios de “pianos de mão” (i.e. normais), principalmente da marca Steck e Weber, que passam a dividir uma parcela maior das vendas com as pianolas. Esta é a primeira indicação do desaquecimento do mercado de pianolas, diante do advento das diversas gravadoras de discos mecânicos.

Propaganda Casa Beethoven, 1921. 

Propagandas da Casa Beethoven, 1926 e 1922.

Na seguinte propaganda, de 1923, vemos que a Casa Beethoven possuía à venda mais pianos manuais do que pianolas:

Casa Beethoven, 1923.

E esta propaganda afirma que a Casa Beethoven já havia vendido 1.151 pianos e pianolas até o momento:

Propaganda da Casa Beethoven, 1923.

Em 1923, um ano após a primeira transmissão de rádio no Brasil, a Casa Beethoven anuncia algo inédito: uma transmissão nacional de rolos tocados por uma Pianola Duo-art, irradiada pela Estação Rádio-telefônica da Praia Vermelha. Aqui vemos os rolos de piano em competição direta com as gravações de discos, que eram irradiadas por outras estações.

Propaganda Casa Beethoven, 1923.

Em 1924, é anunciado o novo “Piano-pianola Steck-Duo-Art”, que “reproduz uma música como se fosse o próprio artista ao piano”, mostrando que os rolos hand-played já eram uma realidade no mercado carioca, embora já houvesse evidências de que estavam presentes desde meados da década de 1910. Os modelos prévios são desdenhados como “máquinas de moer música”.

Propaganda da Casa Beethoven, 1924.

A partir de 1928, a Casa Beethoven muda-se para a Rua Sete de Setembro n. 233 (próximo à Praça Tiradentes), e em seus anúncios vemos uma grande diminuição do espaço destinado às pianolas. Alguns anúncios sequer as mencionam, e agora as vitrolas passam a ganhar cada vez mais espaço, reforçando a ideia de que as pianolas caíram em desuso devido ao crescimento da indústria fonográfica.

Propaganda Casa Beethoven, 1928. 

Propaganda Casa Beethoven, 1929.

Propaganda Casa Beethoven, 1929.

Propaganda Casa Beethoven, 1930. 

Propaganda Casa Beethoven, 1930.

Em uma das últimas propagandas encontradas da Casa Beethoven, vemos o anúncio de um novo aparelho híbrido, o “Rádio-piano-pianola”, indicando talvez uma última tentativa de se vender os modelos de pianos automáticos ainda em estoque.

Propagandas da Casa Beethoven, 1930.

Ao todo foram 17 modelos diferentes de pianolas e pianos vendidos pela Casa Beethoven entre 1909 e 1930: Pianola (65 notas e 88 notas) da Aeolian Orchestrelle Comp. e Aeolian Company de Nova York; Piano-pianola; Piano-pianola de cauda; Piano Steck (modelos de armário e de cauda) que recebem o piano-pianola; Piano Weber (que recebe o piano-pianola); Piano Dorner; Piano Munck; Piano de cauda Crapeaud; Steinway piano-pianola; Piano-pianola Steck (fabricado na Alemanha); Piano-pianola Weber; Steck-pianola Duo-art; Pianola Duo-art; Pianos autográficos (elétricos); Pianauto-piano (com "pedal automático", e "alavanca de silêncio"); Órgão orchestrelle; "Rádio-piano-pianola". As tecnologias  “Metrostyle” e “Themodist” contidas nos rolos também eram constantemente referenciadas.

É importante salientar que a Casa Beethoven também funcionava como editora de partituras desde 1909, tendo publicado pelo menos  200 peças, segundo Mercedes Reis Pequeno (em 1915, por exemplo, publicaram a polca polca “Flor de Abacate”, de Alvaro Sandim). E, como seria de se esperar, suas propagandas também eram feitas em contracapas de partituras:

Propagandas de página inteira da Casa Beethoven em contracapas de partituras.

Propaganda da Casa Beethoven (Fonte: Tese de doutorado “Como é bom poder tocar um instrumento : presença dos pianeiros na cena urbana brasileira - dos anos 50 do império aos 60 da república”, de Robervaldo Linhares Rosa)

Obs. Não se deve confundir a Casa Beethoven do Rio com a Casa Beethoven de São Paulo (Rua São Bento, nº 32), que foi o primeiro escritório da Sociedade de Cultura Artística, e onde Zequinha de Abreu trabalhou como pianista demonstrador ; nem com a Casa Beethoven de Porto Alegre, na qual Ernesto Nazareth se apresentou em 28 de janeiro de 1932.

Pianauto

A Casa Beethoven não se limitava a vender rolos de piano, ela também os fabricava. A marca “Pianauto” foi registrada por Nascimento Silva & Cia. em 1912, como consta no DOU desta data. 

Lateral de um rolo de piano fabricado pela Pianauto

Tratava-se de uma fábrica situada na Rua Chile nº 19, que produzia rolos de piano com músicas primariamente brasileiras. Não foi a primeira no Brasil (pois no ano anterior a casa Rabeca de Ouro já estava fabricando rolos, como veremos a seguir), mas certamente foi a mais profusa e duradoura. O número 1 de seu catálogo foi o samba “Quem são eles” de Sinhô, e até 1929 haviam lançado pelo menos 508 títulos (de acordo com a numeração encontroda nos últimos rolos). Suas propagandas em jornais eram mais escaças e modestas, embora estivessem intimamente ligadas às propagandas da Casa Beethoven.

Propagandas da fábrica Pianauto, 1913.

O interior seus rolos possuía uma bonita imagem colorida, ilustrando uma festa de alta classe animada por uma pianola.

Ilustração presente dentro dos rolos da fábrica Pianauto.

Foram lançados pelo menos dois catálogos dos rolos fabricados pela Pianauto/Casa Beethoven: um em 1912 e outro em 1914. O primeiro permanece desaparecido, porém o segundo chegou-nos graças ao pesquisador Luiz Antonio de Almeida, que gentilmente o digitalizou na íntegra. Clique aqui para baixá-lo.

Capa e 1ª página do catálogo de rolos de pianola publicado pela Casa Beethoven/ Pianauto em julho 1914. Coleção particular de Luiz Antonio de Almeida.

Nele são listados 72 rolos, alguns dos quais já apareciam em anúncios desde 1912, que continham músicas de compositores populares como Arthur Camilo, Honorino Lopes e Ernesto Nazareth (este último com 19 títulos). Também constam alguns poucos compositores estrangeiros, como Mascagni e Meyerbeer (com fantasias sobre temas de suas óperas) e alguns eruditos brasileiros, como Carlos Gomes (que figura com uma fantasia sobre O Guarani arranjada por E. Pinzarrone) e Arthur Napoleão.

Alguns dos rolos são listados no catálogo duas vezes, sendo uma delas com a sigla “TM”, indicando que utilizavam a tecnologia Themodist (que destacava a melodia da música, tocando-a mais alto que o acompanhamento).

Em 1918, a Pianauto anunciou com destaque o lançamento do rolo da ópera Salvador Rosa, de Carlos Gomes (portanto a segunda ópera de Carlos Gomes a ser arranjada para rolo de piano).

Propaganda da Casa Beethoven e fábrica Pianauto, 1918

Sinhô

Um nome que aparece frequentemente ligado à Casa Beethoven na literatura, mas não nos anúncios de jornais, é o de Sinhô (José Barbosa da Silva), um dos compositores de samba mais bem sucedidos na década de 1920.

Em 1916/1917, Sinhô trabalhava na Casa Beethoven tocando sambas e maxixes,  recebendo um percentual pelas vendas. Ali acabaria “oficializado” como pianista, segundo Edgar de Alencar, e “relacionando-se rapidamente, também de quando em vez conseguia vender um piano, defendendo a comissão. No ponto estratégico, bem dentro do coração da cidade recebia amigos e ‘clientes’ e contratava tocatas de festas e bailaricos”.

Propaganda da Casa Beethoven em contracapa de partitura. A afirmação “É a única que tem sempre à disposição dos seus fregueses um Pianista para tocar” pode ser referir ao Sinhô.

Sinhô trabalhava não só para vender pianos, como também partituras, e provavelmente pianolas e rolos de piano, posto que esta era a especialidade da loja. Sua ligação com o ramo de pianolas ainda não é totalmente compreendida. Na literatura consta que a Casa Beethoven editou pelo menos uma de suas músicas em rolo de piano, a valsa Leonor (em parceria com seu professor, Augusto Vasseur). (livro "Tem mais samba: das raízes à eletrônica", de Tárik de Souza).

Porém esta ligação pode ter sido mais profunda, considerando que o primeiro rolo de piano produzido pela Casa Beethoven foi seu samba “Quem são eles”, na década de 1910, como veremos no final do texto.

Foto de Sinhô no interior do rolo do samba “Quem são eles”. Acervo de José Ramos Tinhorão/IMS.

Além disso, Sinhô compôs um ragtime chamado “Pianola” em 1918, que sobreviveu aos dias de hoje graças à gravação de Augusto Vasseur, feita em 1957. Antes de executar a música, Vasseur fornece um beve, porém precioso, depoimento sobre as pianolas, que pode ser ouvido aqui.

Esta música foi grafada para partitura pela primeira vez por Aloysio de Alencar Pinto em arranjo para quatro mãos. Clique aqui para baixá-la (agradecemos a Georges Pinto que gentilmente cedeu a partitura para o texto). Acesse também aqui a partitura para piano solo transcrita por mim, da maneira como Vasseur toca na gravação.

Sabe-se que a maior parte dos rolos de piano produzidos no mundo eram perfurados manualmente, nota a nota, e uma pequena percentagem foi tocada por pianistas em tempo real, gravados nos EUA e na Europa através de uma tecnologia patenteada no início da década de 1910. Embora no Brasil tenham sido comercializados diversos desses rolos (tocados por pianistas como Paderewski, Bauer e Guiomar Novaes), não sabemos se aqui existia o equipamento necessário para se fazer este tipo de gravação. Caso houvesse, é muito provável que Sinhô tenha registrado suas interpretações em alguns rolos, como sugere Mariza Lira (1938): “Foi ele (Sinhô) um dos poucos que conseguiu gravar músicas para pianolas, hoje completamente em desuso”.

Para mais informações sobre Sinhô, acesse o artigo de José Ramos Tinhorão publicado no Correio da Manhã em 23 de outubro de 1966, e o artigo de Almirante publicado no Correio da Manhã em 1957

Rabeca de Ouro

A segunda casa mais importante no mercado brasileiro de pianolas, e talvez a única a oferecer uma competição real à Casa Beethoven, era a Rabeca de Ouro (também referida como "Casa Santos Couceiro"). De propriedade de Alfredo dos Santos Couceiro, ficava situada na Rua da Carioca, nº 55, e vendia “músicas perfuradas e instrumentos de cordas”, que incluíam violões, bandolins e violinos.

Também vendiam “pianos pneumáticos” (um termo genérico para “pianola”, este último marca registrada pela Casa Beethoven) das marcas Emerson Angelus (Angelus Player Piano), Knabe Angelus, e auto-pianos elétricos Welte Mignon. Ressaltavam como diferencial de seus pianos automáticos tecnologias como “alavanca de frasear”, “melodant”, e a constituição de materiais adaptados ao clima tropical: "os tubos condutores de ar são de alumínio e não de borracha, porque, na época atual de calor, a borracha estala". Em 1911, já haviam vendido 815 pianos automáticos Angelus.

Seus anúncios compreendem pelo menos o período de 1911 a 1918.

Propaganda da casa Rabeca de Ouro (Alfredo dos Santos Couceiro), 1911.

Propaganda da casa Rabeca de Ouro (Casa Santos Couceiro), 1911.

Parte de seu escopo envolvia a venda de rolos de piano (“musical rolls”), da marca F.i.r.s.t., de fabricação italiana, que eram "examinados e conferidos pelo maestro Michele d'Alessandro, diretor regente da Ópera de Milão”, perfurados a partir de edições de G. Ricordi e E. Sonzogno. Esta escrupulosa revisão pela qual passavam resultava em rolos sem “falta de notas”, provavelmente um diferencial importante em relação à concorrência. Também vendiam rolos autográficos da marca Voltem , "com interpretação de grandes pianistas - Paderewski, Vianna da Motta, etc”. Os rolos continham músicas de autores "clássicos, românticos ou nacionais", e eram sempre anunciados como próprios para as pianolas e auto-pianos Angelus.

Propaganda da casa Rabeca de Ouro (Casa Santos Couceiro), 1913, mencionando as marcas de rolo F.i.r.s.t. e Voltem, além dos pianos automáticos Welte Mignon.

Porém uma das características mais importantes da casa Rabeca de Ouro é que provavelmente foi a primeira fábrica de rolos de piano no Brasil. A partir de 1º julho de 1911, anunciaram a produção de rolos em “papel perfurado americano próprio das frábricas estrantgeiras”.

Propaganda da casa Rabeca de Ouro, 1911, anunciando a fabricação de rolos a partir de 1º de julho.

E havia um diferencial muito importante: os rolos poderiam ser feitos sob encomenda dos clientes: "podendo os senhores trazer os originais [partituras] que em 24 horas executaremos a encomenda, porquanto nos achamos aparelhados com máquinas elétricas as mais aperfeiçoadas para fabricação de músicas perfuradas e papel especial mandado vir expressamente para este fim".

Até onde sabemos, este sistema de música personalida foi único na história brasileira, não encontrando paralelo no mercado de partituras ou de gravações.

Propaganda da casa Rabeca de Ouro, 1911, anunciando a fabricação de rolos de piano sob encomenda.

Alguns anúncios listavam títulos específicos de rolos fabricados pela Rabeca de Ouro:

Propaganda da casa Rabeca de Ouro, 1912.

É interessante notar que a Rabeca de Ouro tinha uma estratégia de marketing bastante competitiva, muitas vezes colocando anúncios na mesma página dos da Casa Beethoven. Anunciavam que a casa “não teme o confronto”, e que seus rolos presavam pelo “máximo cuidado na sua confecção e revisão”. Sobre seus pianos, diziam “ninguém deve comprar pianos automáticos sem examinar, tocar ou ouvir os célebres pianos Angelus-Emerson, maravilha em mecânica, o ideal dos amadores e artistas”

Nesta pequena guerra pelo monopólio do mercado de pianolas, ambas utilizavam frases como “cuidado com as imitações” ou “venha ouvir nossa pianola antes de fazer sua escolha”.

Propaganda da casa Rabeca de Ouro, 1912, em que se afirma que “não temem confronto” da concorrência.

Fábrica Excelsior

A terceira e última fábrica de rolos brasileira de que tomamos conhecimento foi a Excelsior (possivelmente uma subsidiária da fábrica peruana de mesmo nome), de propriedade de R. Villela & C.ª, localizada na Rua Evaristo da Veiga nº 28 (“a 2 passos do Theatro Municipal”).

Seus anúncios compreendem o período pelo menos entre 1918 e 1920.

Propaganda da fábrica de rolos Excelsior, 1918.

Propaganda da fábrica de rolos Excelsior, 1920.

Era anunciado “grande saldo de rolos americanos”, mas também “últimas novidades em tangos, maxixes”, dando a entender que fabricavam rolos de compositores brasileiros.

Propaganda da Fábrica Excelsior, 1919.

Um destes rolos foi encontrado no acervo José Ramos Tinhorão/IMS: o samba “Tem papagaio no Poleiro”, de Sinhô.

Abaixo listo outras casas de menor representatividade no mercado de pianolas e rolos de piano.

Casa Stephen

Localizada no Largo da Carioca, esquina da rua S. José, e em São Paulo na Rua Direita,vendiam rolos da marca Rythmodik (fabricados por The American Piano Company, Nova York), e também piano reprodutor Fisher, anunciado como superior aos “antiquados auto-pianos e pianolas”.

Os anúncios encontrados desta loja estão concentrados no ano de 1917.

Propaganda da Casa Stephen, 1917.

Propaganda da Casa Stephen, 1917.

Propaganda da Casa Stephen, 1917, com menção a rolos Rythmodik.

Casa Diederichs

Localizada na Rua Sete de Setembro, nº 141, vendiam o piano automático Angelus (assim como a casa Rabeca de Ouro).

Propaganda da Casa Diederichs.

Casa Freitas

Localizada na Rua Dr. Lins de Vasconcellos, nº 23 (“em frente à estação do Engenho Novo”), vendiam piano automático Remington.

Propaganda da Casa Freitas.

L. Levy & Irmão

Em São Paulo, havia pelo menos uma loja especializada em pianolas: a L. Levy & Irmão, cujo proprietário era o compositor Luiz Levy. Localizados na Rua 15 de Novembro nº 50-A, vendiam pianos automáticos Steck, Steinway e Weber, como representantes da Aeolian Company (NY).

Propaganda da casa L. Levy & Irmão - SP, 1914.

Casa Steck

Na década de 1930, as pianolas já eram consideradas ultrapassadas diante das novas tecnologias de gravação elétrica e da difusão do rádio. As lojas passaram a anunciar vitrolas e rádios (como ocorreu com a Casa Beethoven), além dos tradicionais pianos e partituras, em detrimento dos pianos automáticos. A última empresa a resistir no mercado de pianolas foi provavelmente a Casa Steck, que as continuou vendendo até o avançado ano de 1936.

Localizada na Rua Sete de Setembro nº 233 (próximo à Praça Tiradentes), vendiam Pianos-pianola Duo-Art (Aeolian Company) movidos a pedais e a eletricidade, além dos pianos automáticos Steck,  Munck e Pianauto.
Suas primeiras propagandas encontradas são de 1930, e anunciavam instrumentos por preços reduzidos e parcelados em até 30 meses.

Propagandas da Casa Steck, 1930.

Propaganda da Casa Steck, 1930.

Propaganda da Casa Steck, 1930 e 1936. Última propaganda de pianolas encontrada em jornais .

Rolos de piano brasileiros

Como mencionado acima, várias das casas de pianola cariocas anunciavam rolos de piano produzidos no Brasil, que continham os últimos sucessos de gêneros como o maxixe e o tango brasileiro.
Abaixo vemos 15 anúncios de rolos de pianola da Casa Beethoven, com os títulos explicitados, extraídos de diversos jornais publicados entre 1912 e 1914.

15 anúncios de rolos de piano específicos vendidos pela Casa Beethoven – RJ, entre 1912 e 1914. 

Propaganda da Casa Beethoven, 1922, anunciando o do rolo com a marcha carnavalesca “A carneirada do Mé”, de J. Brasilesco.

Os compositores que mais aparecem nestes anúncios são J. Fonseca Costa (Costinha), Alfredo Castro, e J. M.Azevedo Lemos. Também é interessante notar-se a presenta de Chiquinha Gonzaga, a única compositora mulher (e que até o momento não se sabia que figurava em rolos de piano) e Catullo da Paixão Cearense.

Abaixo estão alguns selos de rolos de piano produzidos pela Pianauto/Casa Beethoven:

Selos de rolos de piano da fábrica Pianauto. Coleção particular de Horacio Asborno.

Ouça aqui a execução do rolo “Água de Coco”, filmado por Horacio Asborno especialmente para este texto:

 

 

 

 

 

Selos de rolos de piano da fábrica Pianauto presentes no Acervo José Ramos Tinhorão/IMS, incluindo o No.1 da Pianauto/Casa Beethoven (samba “Quem são eles”, de Sinhô).

No entanto, é Ernesto Nazareth o compositor brasileiro com o maior número de rolos de piano gravados. Além dos 20 lançados pela Casa Beethoven (que infelizmente estão desaparecidos até o momento), há outros 19 produzidos nos EUA, Europa e América do Sul, principalmente das músicas Dengoso e Brejeiro, totalizando 39 rolos.

Selo do rolo contendo o tango brasileiro “Vitorioso”, de Nazareth, com autoria erroneamente atribuída a Ernesto dos Santos (Donga). Fonte: MMusic Digest.

A grande maioria destes rolos nazarethianos foi perfurada manualmente, porém alguns deles foram hand played pelos pianistas Alfredo Oswald, filho do compositor Henrique Oswald (Welte Mignon B-6615) em 1924; Adele Levitt (Temporized 86124); Hughie Woolford (Tel-Electric 50179); e os famosos James Reese Europe e Ford Dabney em arranjo para quatro mãos (Welte Mignon 3566).

Rolo de piano contendo a música Brejeiro, interpretada por Adele Levitt. Fonte: ebay.com .

Selos de rolos estrangeiros contendo músicas de Ernesto Nazareth, incluindo o maxixe Dengoso (Welte-Mignon 3566) interpretado pelos pianistas James Reese Europe e Ford Dabney a quatro mãos. Fontes: coleção particular de Horácio Asborno e ebay.com

Abaixo apresento alguns selos de rolos estrangeiros contendo músicas brasileiras.

Selos de rolos estrangeiros contendo músicas brasileiras. Acervo José Ramos Tinhorão/IMS e coleção de Rogério Resende/Casa do Piano.

Curiosamente, dentre os rolos pesquisados, alguns compositores brasileiros só aparecem em rolos estrangeiros, como é o caso de Marcello Tupynambá (com sete títulos) e Eduardo Souto (quatro títulos), fabricados na Argentina e Uruguai, principalmente pela marca Pampa (cuja sigla indicava “Perforación Argentina Musical Para Autopianos”).
Outras marcas sul-americanas que produziam rolos são: Concert, Cóndor, Mundial, Olimpo, París, Patria, Nobleza e Angelus Hall (Argentina); Onix (Equador); Excelsior e La Artística B-B-F (Peru); Rollos Victor (Uruguai); Rollo México (México); FPA - Francisco de Paula Aguirre e JRR - José Rafael Rodriguez (Venezuela); Guarani (Paraguai, talvez); além das três brasileiras já mencionadas, Pianauto/Casa Beethoven, Rabeca de Ouro/Santos Couceiro e Excelsior. Acesse este site criado pelo colecionador Horacio Asborno para ler mais a respeito das marcas de rolos sul-americanas e consultar boa parte de seus catálogos.

É interessante também notar que vários dos rolos argentinos e uruguaios continham “maxixes” de compositores estrangeiros como Salvador Granata e J. L. Morahes. Este fenômeno se relaciona com a febre dos maxixes no exterior, que teve seu foco em Paris e Nova York entre 1913 e 1915, com ecos na América do Sul (leia mais sobre este assunto nos seguintes textos publicados no site EN150: parte 1, parte 2, parte 3).

[Continua na Parte 2]

TAGS História, Obras

COMENTÁRIOS

Horacio Asborno - 15.06.2015

ROLLOS DE PIANOLA

Estimado Alexandre: nuevamente te felicito por el completísimo trabajo que has realizado sobre la otrora existencia de rollos y pianolas en Brasil. Desde Viedma, Patagonia Argentina te mando un saludo cordial y los mejores deseos para que este trabajo llegue al mayor público posible de tal manera que no se pierda el conocimiento de PIANOLAS Y ROLLOS en BRASIL y resto del mundo. Atte. Horacio Asborno

Mark Reinhart - 08.05.2014

Greetings from the USA. Fantastic site with amazing information. Thanks.

Alexandre H Goncalves - 14.12.2013

Ufa!!

Realmente de tirar o folego!

Manolo Calderón - 11.12.2013

FELICIDADES desde la CIUDAD DE MÉXICO

Estimado Alexandre, te felicito por la excelente información que das sobre las PIANOLAS y Las fabricas de ROLLOS DE PIANOLA que existieron en BRASIL. Yo soy coleccionista de Rollos y de Pianolas desde que tenía 10 años de edad, ahora tengo 55 años, o sea que tengo 45 años de tener este apasionante hobby me gustaría saber en que años existió la fabrica de rollos PIANAUTO y si tienes alguna fotografía de el edificio en donde estaba instalada la fabrica. En México existieron las siguientes fabricas: ROLLOS MÉXICO ARTEOLA ROLLOS NACIONALES SUPERROLLS ARMONIA ROLLOS PASQUALI AUTOGRAFO Todas a excepción de ROLLOS MEXICO existieron hasta mediados de los años 30's ROLLOS MEXICO existió de 1910 a 1981 y tuve la suerte de conocer al dueño y la fabrica. Actualmente yo tengo mi propia marca de rollos: MANUALO MUSIC ROLLS, y mi catalogo contiene música Latinoamericana de los años 70's, 80's, 90's y 2000's. Los rollos son fabricados en los Estados Unidos, y después me los envían a México para poderlos vender desde aquí. En México todavía existen muchas pianolas que funcionan y poco a poco la gente esta redescubriendo las fabulosas PIANOLAS. mi página WEB en donde esta mi catalgo es: www.rollosdepianola.com dentro del catalogo tengo un bossanova maravilloso: AGUAS DE MARZO de Tom Jobim con el arreglo de Cesar Camargo Mariano Te mando un fuerte abrazo Manolo Calderón

Laura Macedo - 06.12.2013

Mais uma Pesquisa de fôlego

Amigo Alexandre , Parabéns por mais uma pesquisa de tirar o fôlego. Riquíssimo e inédito material, tanto escrito quanto fotográfico. E O Rei do Samba - Sinhô - sempre "metido" em tudo, não é mesmo? rsrsrrs. Amanhã vou curtir a segunda parte. Abraços.

Mara Lucia Ferreira Dias - 06.12.2013

Estupefata!

Prezado e Querido Alexandre, Estou impressionada com a raridade de importantes composicoes brasileiras que estavam praticamente escondidas nessas partituras de rolos. E supreendente que talvez os proprios autores brasileiros nao soubessem que suas obras estivessem a viajar pelos continentes europeus e americanos, ou sera que sabiam?. Enfim, parabens por sua meticulosa, cientifica, academica, e tao abrangente pesquisa. Espero que seja uma boa contribuicao a seus colegas. Ja estou ansiosa para ler a segunda parte. Um grande abraco Mara Lucia Ferreira Dias

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