RAMIRINHO

COMPOSIÇÃO

1896 (Circa)

1ª PUBLICAÇÃO

1896

Ramirinho, tango brasileiro publicado em 1896 por A. Napoleão & Cia, dedicado “ao gracioso Ramiro, dileto filho do particular amigo Edgar Dias da Cruz". É um de seus primeiros tangos brasileiros de sua obra, pois Brejeiro, o primeiro tango que Ernesto compôs, fora publicado apenas três anos antes. Até 2012 recebeu apenas uma gravação.

Possui a inusitada forma AA BB CC DD CC A Coda, com a primeira parte aparecendo apenas no início e no final. Além disso possui quatro partes, fazendo par com tangos maiores como Digo, Batuque e Desengonçado, todos com quatro partes. Sua primeira parte possui o início muito similar ao da primeira parte do tango Pierrot, com terças descendentes, e o mesmo tipo de acompanhamento na esquerda, porém Ramirinho trabalha acordes mais cheios e em uma extensão maior no teclado do piano.

Além disso, em ambos tangos (Ramirinho e Pierrot) o primeiro acorde da melodia recebe uma fermata, como acontece em diversos outros tangos nazarethianos. Isto torna a música de Ernesto menos apropriada para a dança do que para a audição. Sobre este aspecto, o musicólogo João Baptista Siqueira ressalta o seguinte, em seu livro Ernesto Nazareth na Música Brasileira (1967):

“Destaquemos finalmente, o mais antagônico dos elementos às danças populares — a fermata. Ela aparece na música como um semicírculo sobre um ponto, o qual serve para reter e sustentar o movimento, quando colocado acima ou abaixo das notas. (…) esse sinal, que repetido torna impossível o movimento dançante, existe em numerosas obras de Ernesto Nazareth: Batuque, no final da primeira parte; Pairando, no final da primeira parte; Vem cá, branquinha, no antepenúltimo compasso da primeira parte; Ouro sobre azul, no penúltimo compasso da primeira parte; Duvidoso, na ligação melódica do primeiro elemento da frase inicial; Reboliço, no oitavo compasso da primeira parte; Ramirinho, logo na introdução, etc.”

Mais uma menção a Ramirinho aparece no livro Ernesto Nazareth – Estudos Analíticos (1963) do musicólogo Jaime Diniz. Ele cita uma conclusão a que Mário de Andrade chegou:

“No Ensaio sobre a Musica Brasileira (Martins Editora, S. Paulo, 1962. pág. 47), Mário de Andrade faz uma 'observação importante', como ele o diz, com relação ao comportamento da melodia brasileira. Afirma ele que “a nossa melódica afeiçoa as frases descendentes”, e um dos exemplos ilustrativos disso é precisamente uma obra de Nazareth, o tango Ramirinho publicado em 1896”. 

A parte D é construída em notas extremamente agudas, perto da última oitava do piano. Os acordes e intervalos montados nesta região dão um brilho interessante à peça. A construção melódica em acordes desta parte é comentada brevemente por Mário de Andrade em sua conferência sobre Ernesto Nazareth no Teatro Municipal de São Paulo em 1926:

“O cultivo entusiasmado da obra chopiniana lhe deu, além dessa qualidade permanente e geral que é a adaptação ao instrumento empregado, o pianístico mais particular de certas passagens, como a terceira parte do Carioca, ou tal momento do Nenê. Ainda é chopiniana essa maneira demonstrada no Sarambeque, no Floraux, na quarta parte do esparramado Ramirinho, de melodizar em acordes tão contra a essência monódica da música popular.”