ONZE DE MAIO

COMPOSIÇÃO

1900 (Circa)

1ª PUBLICAÇÃO

1900

Onze de maio, quadrilha publicada por volta de 1900 por Manoel Antônio Gomes Guimarães, "dedicada à Exª. Srª. D. Maria José Amado de Meirelles". É uma das raras quadrilhas de Ernesto Nazareth, sendo as outras Chile-Brasil (comp. 1889), Julieta (1ª ed. 1900) e A flor de meus sonhos (1ª ed. c. 1887), todas inéditas em gravação comercial.

Esta não é a única peça que Nazareth compôs com nomes de datas, sendo as outras Nove de maio, Nove de julho e 1922. Foi dedicada à “Exma. Sra. D. Maria José Amado de Meirelles”, esposa do Dr. Baptista Meirelles Filho, cunhado de Ernesto, e o título desta quadrilha provavelmente faz alusão ao aniversário da homenageada, segundo hipotetiza o biógrafo Luiz Antonio de Almeida.

A quadrilha é uma dança de salão européia originada no século 18 e muito popularizada no século 19, tendo se espalhado por toda a Europa e colônias. Quase todos os manuais de dança da época possuiam uma seção explicando os passos e a etiqueta da quadrilha. Sua formação coreográfica requer quatro casais dispostos na forma de um quadrado, que se revezam nos passos da dança. Um dos pares é o principal, que lidera os outros.

Musicalmente, a quadrilha é composta por cinco partes (ou movimentos) diferentes, como cinco pequenas músicas intercaladas, cada uma com começo, meio e fim. Os ritmos de cada parte também seguem determinadas regras: a primeira parte pode ser em 2/4 ou 6/8, a segunda sempre em 2/4, a terceira sempre em 6/8, e a quarta e quinta partes sempre em 2/4, sendo que todos os temas possuem a duração de 8 compassos. Naturalmente, a dança acompanhava cada um destes ritmos, fossem ternários ou binários.

A quadrilha eventualmente também se tornou um gênero popular na Belle Époque brasileira, presente na obra de diversos autores. Por exemplo, a coleção de 15 CDs “Princípios do Choro” (Acari Records, 2002), que fez um grande resgate de peças de compositores deste período, registrou 5 quadrilhas: de Saturnino, Luiz Borges de Araújo, Anacleto de Medeiros, Henrique Alves de Mesquita e Galdino Barreto, todas em cinco partes. Chiquinha Gonzaga também compôs duas quadrilhas (Arcádia e quadrilha de Jandyra), e o “pai do choro” Joaquim Callado compôs nada menos que 22 quadrilhas, trazendo grandes contribuições ao gênero. Curiosamente, existe pelo menos uma quadrilha contemporânea, composta nos moldes antigos: Um baile em Villa-Boa, de Maurício Carrilho, e Cavaquinho de ouro, de Gustavo Cãndido.

Segundo a pesquisadora Cristina Magaldi, no livro Music in Imperial Rio de Janeiro: European Culture in a Tropical Milieu (Scarecrow Press, 2004), peças deste tipo eram escritas para consumo interno, para serem tocadas em encontros familiares e saraus, e para preencherem intervalos de peças teatrais. Essas obras serviam de entretenimento nos salões cariocas devido ao seu sotaque exótico europeu, e não exatamente como peças nacionalísticas com o objetivo de retratar uma linguagem musical distinta.

É interessante notar que, embora este gênero esteja hoje praticamente extinto em sua forma original, no Brasil ele evoluiu para a quadrilha de festas juninas, fenômeno rural que adquiriu grandes proporções principalmente no Nordeste, dançada com muitos pares comandados por um mestre “marcador”. Já nos EUA, a quadrilha seguiu um outro caminho evolutivo, culminando na popular square dance, nomeada a dança oficial em 19 estados.